O universo dificilmente poderia ser mais inesperado. O realizador Paul Thomas Anderson, que assina também o argumento, imiscui-se no mundo da moda, ao retratar uma excêntrica figura da alta-costura britânica da década de 50. Até certo ponto, o filme é a personagem de Reynolds Woodcock, criada por Anderson, mas meticulosamente desenvolvida por Day-Lewis. É uma figura genial e com um elevado grau de autoestima, rigorosa, picuinhas, fechada no seu estranho mundo, com hábitos obsessivos e temperamento instável. Alguém tão bizarro como o Conde Drácula, que vive trancado no seu castelo, onde concebe os vestidos de elite, através de um método pouco ortodoxo, com muita intuição e rasgos de criatividade. Vive ali isolado com a irmã, com quem mantém uma relação peculiar de dependência mútua, e também com uma série de costureiras que se assemelham aos ratinhos da Gata Borralheira.
Como um Drácula predador, dedica-se à caça. Persegue donzelas desprotegidas através do seu charme de génio louco, com um olhar fixo e iluminado. Caça, serve-se do sangue delas, que é como quem diz da alma, e depois livra-se delas, transformando-as metaforicamente em fantasmas: é como se deixassem de existir. Esse é o destino previsível de Alma (belíssima revelação da luxemburguesa Vicky Krieps), que ele “caça” num viagem ao campo. Olhamos para ela como a pobre donzela que se deixa seduzir pelo Conde Drácula e entra no seu castelo. Mas no filme trata-se, meticulosamente, a evolução dessa relação até à genialmente perversa inversão da relação de forças. E como acontece com qualquer bom vestido, o génio de Linha Fantasma está no tecido e nos ínfimos pormenores dos pontos com que se cose.
Linha Fantasma > De Paul Thomas Anderson, com Vicky Krieps, Daniel Day-Lewis, Lesley Manville > 130 minutos
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