À pergunta acerca da importância de mostrar, nos dias de hoje, um trabalho fotográfico realizado entre meados dos anos 70 e início dos anos 80 por Cláudia Andujar junto da comunidade indígena brasileira Yanomami, Marta Mestre, do Instituto Inhotim, que faz a curadoria da exposição Visão Yanomami, que inaugura este sábado, 11, no Arquivo Municipal de Lisboa, responde: “Eu diria que é altamente relevante, da mesma potência de um ‘soco no estômago’. É importante ter em mente que o início deste longo ensaio fotográfico, ao qual Cláudia Andujar dedicou grande parte da sua vida, teve início quando era ainda uma mulher jovem no contexto da ditadura brasileira.”
O sentimento mais forte ao olharmos para aquelas fotografias, segundo Cláudia Andujar disse em entrevistas várias, é o de sermos tocados pela vulnerabilidade do povo Yanomami. Do seu arquivo pessoal fazem parte mais de 100 mil imagens. O Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, exibe, em permanência, cerca de 420 e, no Arquivo Municipal de Lisboa, estão agora expostas 40.
O documental aliado ao autoral, cada imagem traduz uma preocupação em não fazer etnografia. “Sendo uma herdeira da fotografia de documentação social dos Estados Unidos que, ao longo dos anos 60, se projetou no campo do fotojornalismo internacional e brasileiro, Andujar consegue ter um controlo perfeito da técnica e, inclusive, adotar várias soluções experimentais para o contexto da floresta”, sustenta ainda Marta Mestre. “Por exemplo, para registar caçadas Yanomami na selva, Cláudia besunta vaselina nas margens das lentes, de maneira a conferir movimento à vegetação.”
Visão Yanomami > Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico > R. da Palma, 246, Lisboa > T. 21 884 4060 > até 15 abr > seg-sáb 10h-19h > grátis