O título foi encontrado por Maria do Mar Fazenda numa conversa de Júlio Pomar com Helena Vaz da Silva, em 1979. A interpelação do pintor ficou-lhe, e foi respescada para esta proposta curatorial premiada, em que inverteu os termos contidos no nome do museu: “Um museu que volta a ser ateliê, um espaço de trabalho e questionamento sobre o próprio museu”, sintetiza. Reuniu dez artistas e 17 obras que interrogam o gesto colecionador, a missão museológica, os espaços. Ao lado de peças contemporâneas de Ana Pérez-Quiroga, Rodrigo Oliveira ou Sara & André, vê-se Paturage au bord d’une mare (1850), de Jules Dupré, paisagem respeitadora das convenções do género. Por critérios de gestão de acervo, habitualmente não está exposta (assim como muito do século XIX) – o público não sabe que existe. Uma invisibilidade que serve para aqui falar do discurso muselógico. Esta obra entra em diálogo, por exemplo, com Dispositivos de Apresentação, de Ramiro Guerreiro: imagens captadas no Museu Nacional de Arte Antiga sobre formas de exibição (plintos, salas dentro do museu, etc). Já Rodrigo Oliveira mostra a instalação Acervo (Acervo restrito) #2, uma passagem secreta para o alçapão de um colecionador privado. Perto, está a escultura Estante e Coleção de Livros de Autores Que se Suicidaram, de Fernanda Fragateiro – Maria do Mar aponta o impulso colecionista comum a museus e bibliotecas. Catarina Botelho mostra duas fotografias (únicas obras inéditas da exposição) do projeto Horas Extraordinárias em que regista a Fundação Calouste Gulbenkian encerrada ao público; Lúcia Prancha e Sara Fernandes assinam Réplica de cavalete desenhado por Lina Bo Bardi – a criadora do Museu de Arte de São Paulo concebeu plintos suspensos, contribuindo para uma “história de arte sem divisórias”, diz Fazenda. São obras que falam “sobre o que é suposto, ou não, fazermos num museu”. Por isso, vão haver “conversas performáticas” diárias no Ateliê-Museu.
Já reparaste como um ponto de interrogação parece uma orelha e, como a interrogação se faz escuta? > Ateliê-Museu Júlio Pomar > R. do Vale, Lisboa > T. 21 817 2111 > até 10 abr, ter-dom 10h-18h