Ai o Lucerys! (Por enquanto fica só assim, num suspiro, e já voltamos ao herdeiro de Derivamarca.) Que grande final, não foi? E um melhor início, talvez. Um episódio para impressionar, à altura do imenso talento da atriz Emma d’Arcy, que interpreta o papel da princesa Rhaenyra e nos leva com ela naquele carrossel emocional… ao fim de uma hora estamos ainda agitados, sobressaltados, exaustos.
Vamos ao início. Mais um parto sofrido. Mas isto não é dito com tédio, pois a cena em que Rhaenyra ouve a notícia da morte do pai, o rei Viserys, seguida da informação de que o meio-irmão Aegon lhe usurpou o trono e foi coroado rei, para logo sentir as dores do parto prematuro é suficientemente dramática.
No final do anterior episódio, perguntávamos para onde iria Rhaenys, montada no seu dragão Meleys, depois de fugir de Porto Real, onde ainda assistira à coroação de Aegon. Para onde iria a sua lealdade? Esclareceu-se: foi para Pedra do Dragão avisar a prima do perigo. Mas isso não significa que alinhe na guerra – ela vai andar por aí.
Enquanto Rhaenyra, a futura ou já rainha, dá à luz, Daemon, o rei consorte, organiza as tropas. De novo aqui os papéis de género – ela é o topo da hierarquia, mas está remetida ao quarto por força da natureza. Há horas que não perdoam. Ele dá as ordens enquanto ela grita de dor. Mas não estão em consonância: percebe-se que Rhaenyra não quer ir brincar aos soldadinhos a todo o custo, é mais ponderada; Daemon já vê o sangue a jorrar à sua frente (ou não seria o Daemon de que tanto gostamos).
O bebé nasce morto. Rhaenyra toma-o nos braços… não há rainha, não há metáfora para um reino despedaçado; é só uma mãe, de camisa de noite, destruída de dor. É enquanto o chora, no velório, que aparece um cavaleiro, um dos gémeos Cargyll, com a coroa. É muito comovente a cena da coroação de Rhaenyra pela mão de Daemon, que lhe chama apenas “minha rainha” (notamos aqui que o ator Matt Smith se ajoelhou muito mais facilmente em Casa do Dragão perante Rhaenyra Targaryen do que em The Crown, perante Isabel II).
Nas pedras de Monsanto nascem dragões
Toda esta cena ao ar livre, no topo de uma montanha, com pedras gigantescas de formas extraordinárias, foi filmada na Beira Baixa, na aldeia histórica de Monsanto, Idanha-a-Nova. Aquela zona é agora Pedra do Dragão, casa da família Targaryen.
Em Guerra dos Tronos, Pedra do Dragão tinha pouco mais do que cenas na praia, que foram filmadas no norte de Espanha, mas os produtores procuraram um cenário para o interior da ilha imaginada por George R. R. Martin. “É um país lindo e ótimo para filmagens. Quando vimos Monsanto, numa montanha, encontrámos Pedra do Dragão. Na série original, Pedra do Dragão era uma costa do Norte de Espanha. Lá só se viu uma faceta da ilha, a praia, mas precisávamos do resto da ilha, precisávamos de todo um mundo. Foi o que encontrámos no cume daquela montanha íngreme em Portugal”, explica o argumentista Ryan Condal, num vídeo novo lançado pela HBO a propósito de Monsanto.
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Fomos a Portugal um bocado por capricho e ficámos de queixo caído
Miguel Sapochnik, realizador
Outra das cenas marcantes que vimos ali, num episódio passado, foi quando Daemon foi buscar três novos ovos de dragão numa fenda de montanha. É verdade, o ninho dos bichos está aqui perto e em Monsanto até há, ficámos a saber agora, dragões selvagens, ou seja, não reclamados nem montados por ninguém. Quando Daemon está a fazer a contagem das “espingardas”, alguém lhe diz: “Para quê contar homens quando há dragões?”
Rhaenyra tem mais poder animal do que os seus inimigos, mas está reticente. “Quando os dragões entram na guerra, arde tudo. Não quero governar um reino de cinzas e ossos”, declara. Daemon acusa-a de ter um discurso de fraqueza, como o seu pai, mas o facto é que a sua sensatez convence a prima Rhaenys.
E é Rhaenys quem explica ao marido – é verdade, Lorde Corlys recuperou a saúde e está bem quando todos já o faziam morto! – que é preciso apoiá-la. Rhaenyra ganha, assim, o apoio do Senhor das Marés.
Arde, baby, arde!
Rhaenyra, a prudente, quer conhecer os aliados que tem ou não tem antes de ir para a guerra. Convencem-na a mandar os filhos, de dragão, para falar com três grandes casas: o filho mais velho, Jacaerys, é enviado a Ninho da Águia e a Winterfell. O do meio, Lucerys, vai a Ponta Tempestade, um destino mais perto, falar com a casa Baratheon.
Lucerys tem 14 anos e o seu dragão, Arrax, é ainda pequeno. Ponta Tempestade faz jus ao nome e a receção não é calorosa como a mãe lhe tinha prometido. É que, junto a Borros Baratheon, Lucerys encontra o tio Aemond Targaryen, a quem tinha cegado de um olho durante uma luta na infância.
Aemond já garantira para o irmão o apoio de Baratheon e agora só quer mesmo massacrar o sobrinho. Primeiro persegue-o para lhe arrancar um olho também, enebriado pela vingança. Aemond tem um aspeto extraordinário com aquela pala, mas fica ainda melhor quando a tira e mostra um olho de safira.
O miúdo consegue fugir, mas o tio, bully teimoso, vai atrás dele no ar, Lucerys em cima de Arrax, Aemond do enorme Vhagar. Os dragões, regra geral, obedecem aos seus “tutores”, mas não é algo sempre garantido porque, enfim, são bichos sem rivais. Arrax arma-se em esperto, desobedece, manda uma baforada; Vhagar perde a cabeça, Aemond já não o controla e… puf. Dragão esfrangalha dragão. Ou, dito de outra maneira, tio mata sobrinho.
Rhaenyra, a sensata, perde outro filho. A sua expressão ao cair do pano nada tem de sensatez.
Vamos ter saudades de Casa do Dragão. A guerra está mais do que anunciada e a segunda temporada certamente terá mais cenas exteriores e de ação, uma crítica recorrente a esta prequela entre os fãs de Guerra dos Tronos. O certo é que o último episódio foi o melhor. Bom prenúncio para tempos que hão de vir.