Pode um professor de filosofia – essa disciplina desprezada por tantos – mudar a vida dos seus alunos? Pô-los a pensar, a questionar, a reivindicar? Pode uma série ensinar-nos catalão, relembrar-nos as teorias dos principais filósofos, ligar-nos de uma forma íntima às personagens? A resposta a isto tudo é sim e tal acontece nas três temporadas de Merlí (Bergeron), o nome do provocador que baralha o statu quo da escola secundária para onde vai dar aulas. Entre os peripatéticos, como carinhosamente trata a sua turma numa alusão aos seguidores de Aristóteles, está o filho, com quem tem uma relação difícil e oscilante.
Cada temporada corresponde a um ano do Secundário. Ao longo de 40 episódios, cada um deles debruçando-se sobre um pensador, de Descartes a Michel Foucault, vamos assistindo ao crescimento dos jovens – um elenco bastante diversificado, desconhecido dos portugueses, mas com imenso talento.
A série estreou-se na Catalunha em novembro de 2015, na TV3, mas tem vindo a ser reconhecida internacionalmente e transmitida em vários países (em alguns através da Netflix). Em Portugal, passou na RTP2, nos meses de março e abril, sem cheirar a mofo. Aliás, os problemas focados são de uma atualidade estonteante, se não, veja-se o caso da professora independentista, do aluno gay que lhe custa sair do armário, da rapariga que foi mãe adolescente, da exposição nas redes sociais, dos dramas da escola pública.
Há momentos em que nos lembramos do filme O Clube dos Poetas Mortos, pela importância que um professor pode ganhar na adolescência e pelo carisma de Bergeron junto dos seus alunos. No entanto, a série cola-se mais a outros formatos passados nos liceus norte-americanos, mas com muita proximidade à realidade nacional. Os peripatéticos podiam ser qualquer um de nós, num liceu português.
Merlí > Disponível na plataforma RTP Play, três temporadas (40 episódios)