Nunca outra sala de espetáculos da cidade terá recebido tantos notáveis como o Coliseu do Porto: de Humberto Delgado a Barack Obama, de Amália Rodrigues a Miles Davis, de Pat Metheny a Metallica, de Beatriz Costa a Simone de Oliveira… Daí que os 80 anos do edifício, que se celebram a 19 de dezembro e são indissociáveis da História da cidade, sejam motivo mais do que suficiente “para o abrir durante o dia”, salienta a presidente do Coliseu do Porto, Mónica Guerreiro.
As visitas guiadas – a primeira é já neste sábado, 23 –, organizadas pela empresa Porto Secret Spots, decorrerão aos fins de semana, em dois horários (10h e 12h), condicionadas pelos espetáculos em agenda (não acontecerão, por exemplo, nos domingos do mês em que decorram os Concertos Promenade).
O foyer é o ponto de partida desta viagem, com a duração de uma hora, ao edifício modernista projetado por vários arquitetos, com Cassiano Branco a assumir uma maior relevância. “Foi também aqui que se deram as boas-vindas em 1941 [quando a casa de espetáculos sucedeu ao Salão Jardim Passos Manuel]”, lembra Pedro Pardinhas, responsável pela Porto Secret Spots, a empresa que também organiza visitas à cupula do Pavilhão Rosa Mota e ao arco da Ponte da Arrábida. A visita é uma oportunidade para que se apreciem os quatro baixos-relevos do escultor Henrique Moreira, bem como o antigo brasão da cidade, encimado pela coroa e pelo dragão.

Seguimos para a sala de espetáculos, uma das maiores do Porto, com capacidade para quatro mil lugares. Sentados na plateia, ficamos a conhecer a História “desta sala que tem muitas outras salas”, continua Pedro Pardinhas. Olhamos a cúpula no teto, com cerca de 300 lâmpadas, e os camarotes em cada um dos lados do palco. Num ecrã, vão passando fotografias antigas, a preto e branco: o dia da inauguração, em plena II Guerra Mundial, com a casa cheia para ouvir a pianista Helena Sá e Costa a tocar Mendelssohn com a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, dirigida pelo maestro Pedro de Freitas Branco; os camarins originais (deles, ainda sobra algum mobiliário em exposição no corredor); o comício de candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República, em 1958; o primeiro concerto de Maria João Pires com apenas 11 anos; os beberetes servidos na adega da cave (em breve, fará parte destas visitas).
Recordam-se, ainda, os dias turbulentos do Coliseu quando esteve prestes a ser vendido à Igreja Universal do Reino de Deus (1995), mobilizando toda a cidade e levando à criação da Associação Amigos do Coliseu que viria a adquirir o edifício, até ao incêndio que destruiu o palco, após o desfile da modelo alemã Cláudia Schiffer no primeiro dia do Portugal Fashion de 1996.
Atravessamos os corredores (ou ferradura, como são conhecidos), os mesmos por onde o público passa, normalmente apressado, para o início de um espetáculo. Nas vitrinas, observa-se uma Montra de Histórias: cartazes antigos de Cruz Caldas (das festas de Carnaval, por exemplo), o Bastão de Molière (1941), em madeira e cordão, com o qual o maestro Pedro de Freitas Branco deu as três pancadas na noite da inauguração, desenhos de arquitetura do edifício (em especial, de Cassiano Branco), o Livro de Honra manuscrito sobre papel, fotografias da sala (1947) de Domingos Alvão, uma antiga máquina de bilhetes, gravuras do espólio da oficina gráfica do Coliseu do Porto…
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Seguimos para a zona de artistas e de backstage, com entrada pela Rua Formosa. Recordam-se histórias antigas, como aquela em que um elefante de circo recusou-se entrar por ali, devido à existência de uma vala, tendo obrigado os tratadores a levá-lo pela Rua Passos Manuel para que entrasse no Coliseu pela porta principal. “Aqui já foram as cavalariças e até um restaurante”, aponta Pedro Pardinhas. Visita-se o subpalco – uma parafernália de tábuas de madeira e de material que se esconde debaixo do imenso palco com 17 metros de largura e 13 metros de profundidade.
Subimos aos camarins – há seis individuais, quatro de grupo e dois coletivos. No principal, o número 1, “onde se sentaram pelo menos dois prémios Nobel, Barack Obama e Bob Dylan”, lembra Pedro Pardinhas, contam-se algumas exigências dos artistas antes de atuarem nesta casa de espetáculos: “Marilyn Manson [Brian Warner] pediu o camarim pintado de negro, a brasileira Simone queria-o todo branco, Maria Bethânia exigiu um altar…”
A visita terminará com vinho do Porto, ao mesmo tempo que se folheia uma réplica do livro de honra com os testemunhos de, entre outros, Amália Rodrigues, Benjamin Clementine, Gisela João, Rui Veloso, Jorge Sampaio, Herbie Hancock, Chico Buarque e Barack Obama. Antes, pisamos o palco, o lugar mágico onde tudo acontece. Olha-se a teia de 23 metros e meio de altura (corresponde a um prédio de oito andares), a estrutura que segura cenários e iluminação. Estamos frente à imensa (e belíssima) sala de espetáculos. E ali, quase sentimos o mesmo nervoso miudinho dos artistas.
Coliseu do Porto > R. Passos Manuel, 137, Porto > T. 22 339 4940, 93 308 8331 > a partir de 23 out, sáb-dom 10h, 12h30 > €12,50 4-10 anos €5 > marcação prévia, visitas limitadas a 13 pessoas > portosecretspots.com/coliseu-do-porto-ageas