É um eixo verde que vai nascer em Lisboa, em 2021, com os jardins da Gulbenkian como bloco central, a unir duas extremidades: a Praça de Espanha, objeto de uma renovação geral, e o Largo de São Sebastião da Pedreira, que a Câmara Municipal de Lisboa irá também requalificar.
Em março deste ano, a Fundação Calouste Gulbenkian lançou um concurso de ideias para o alargamento do seu jardim, a sul. O desafio foi proposto a 12 ateliers de arquitetura, nacionais e estrangeiros, e das 12 propostas recebidas, o júri votou, por unanimidade, na solução apresentada pela equipa liderada pelo japonês Kengo Kuma.

Mais do que o jardim, que ganhará uma nova entrada sul, o que vai marcar sobretudo esta nova Gulbenkian é a intervenção no edifício da Coleção Moderna. Além do aumento da área expositiva (700 metros quadrados, no subsolo), na fachada sul irá nascer uma enorme pala, construída com “escamas” cerâmicas vidradas em tons de branco e revestida a madeira no interior. Segundo a Fundação Calouste Gulbenkian, a proposta demonstrou respeito pelos valores existentes, trouxe modernidade e acrescentou valor ao património da fundação. Destaca ainda que o projeto do arquiteto japonês reforça o diálogo entre os edifícios e o jardim.
Kengo Kuma, 65 anos, desenhou projetos como o complexo Cité de la Musique, em França, vários museus no Japão e o novo Estádio Nacional de Tóquio, que vai receber a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos em 2020. É ainda autor do projeto de arquitetura de reconversão do antigo Matadouro Municipal do Porto. No projeto para a Gulbenkian, Kuma trabalhou com o arquiteto paisagista libanês Vladimir Djurovic, autor da proposta de exteriores para o MAAT e sede da EDP, em Lisboa, e galardoado com o prémio Aga Khan pelo projeto Aga Khan Park.

Nesta terça, 10, Kengo Kuma vai estar no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, para desvendar um pouco mais do projeto que tem data de conclusão prevista para 2021. A conferência Um Parque para a Cidade, marcada as 18 e 30, é antecedida por uma mesa redonda (17h) com Ana Tostões, Gonçalo Byrne (comissário da conferência) e João Nunes, para debater a arquitetura dos edifícios Gulbenkian e a sua inserção na cidade de Lisboa, desde a sua construção nos anos 60 aos dias de hoje. Pelo meio, está marcado o lançamento do livro Gulbenkian, com fotografias de André Cepeda (ed. Monade).

O alargamento dos jardins vai permitir a reunificação do antigo Parque de Santa Gerturdes. Recorde-se que, na década de 50, seis sétimas partes desta propriedade (que chegou a acolher a Feira Popular de Lisboa) foram vendidas por Vasco Vill’alva à Gulbenkian, para instalação da fundação. A parte remanescente (com exceção da Casa da Fundação Eugénio de Almeida e respetivo logradouro) foi comprada, em 2015, a Maria Tereza Eugénio de Almeida. Após a sua morte, em 2017, a Fundação Calouste Gulbenkian tomou posse da parte sul, dando início ao processo que vai devolver o antigo parque à cidade.