
Rui Duarte Silva
Quando tinha poucos meses, Paulo Ferreira era capaz de ficar horas a brincar com os livros, na montra da livraria do pai, Manuel Ferreira, um dos mais respeitados alfarrabistas do Porto. Ali, teve o seu recreio e a sua escola. “Lia de tudo e lidava com bibliófilos, tipógrafos e gravadores”, recorda. Quando começou a editar os seus primeiros livros-objeto, sentiu necessidade de abrir a sua própria casa, onde tivesse a liberdade de lançar projetos especiais, em tiragens muito pequenas.
Em 2016, a In-Libris comemorou 20 anos e mudou-se para um novo edifício, na Rua do Carvalhido, onde Paulo continua a dividir-se entre as atividades de editor, alfarrabista, fotógrafo, artesão, gráfico e galerista. “Vou querendo ser aquilo que vou sendo, como dizia [o professor e historiador] José Mattoso.”
Funciona, desde logo, como uma montra da edição da In-Libris. “Cada livro é tratado de forma especial, recorrendo a materiais e técnicas inusitados”, diz Paulo Ferreira, recordando algumas obras, como Cada árvore é um ser para nós, com poemas de António Ramos Rosa e imagens do próprio Paulo, em que os exemplares foram conservados num estojo em seda, pele de vitela e cortiça, de execução manual, acompanhados de um CD com o som recolhido junto da árvore fotografada. “Na In-Libris gostamos de fazer os livros à mão, conforme os vamos sentindo”, explica. “As escolhas editoriais são muito à flor da pele, quando surgem coisas que nos desafiam e emocionam.”
Enquanto alfarrabista, procura os livros de que gosta e, pelo caminho, tropeça noutros. Um pouco como acontece na In-Libris, onde não existem divisões temáticas e estimula-se o encontro com aquilo que aparece, desde um livro de culinária a um manual antigo de Medicina. Um lugar ostensivamente desorganizado (embora obedeça a uma lógica), para cativar espíritos curiosos. Que os há, já que a maioria dos clientes, com quem Paulo Ferreira mantém uma relação de amizade, fica para a vida.
In-Libris > R. do Carvalhido, 194, Porto > T. 91 999 1597 > seg-sex 10h-13h, 15h-19h30