1. Os Lusíadas
Luís de Camões
2024 foi ano fértil em edições comemorativas dedicadas aos 500 anos do nascimento de Camões, como esta, com fixação de texto e notas de Emanuel Paulo Ramos, e dez desenhos de figuras gráceis e reminiscências botânicas, a preto-e-branco, criadas por Valter Hugo Mãe. O poeta-desenhador sublinha uma leitura contemporânea desta “maravilha inesgotável”: “É preciso amar Camões como um diamante que nasce a partir das carnes vivas e mortas, do que floriu e do que se viu deitado a escombros.” Porto Editora, 304 págs., €34,99
2. O Inquieto Verbo do Mar
Sebastião da Gama
Volume impressionante que sobrecarregará qualquer meia de Natal guarda a poesia reunida de Sebastião da Gama (1924-1952), incluindo um conjunto de poemas inéditos. Com edição cuidada de João Reis Ribeiro, o livro ressuscita um autor de vida curtíssima e escrita dedicada às paisagens da Arrábida, dotado de um “gosto às alegrias” e de uma consciência protetora em torno do mar, urzes, flores, amieiros, Natureza… Assírio & Alvim, 1200 págs., €44
3. Poesia Quase Toda
Zbigniew Herbert
Fiel à ideia do homem pequeno, cheio de falhas, dotado de ironia – “a arma dos impotentes” –, que ele sublimaria nos poemas de uma “persona autodepreciativa”, Senhor Cogito, Zbigniew Herbert (1924-1998) permanece demasiado esquecido. Uma falha agora colmatada. Nesta antologia com seleção de J.M. Coetzee, em que este defende que “a integridade teimosa e sem heroísmos que caracterizou a vida de Herbert durante o comunismo também fixou raízes na sua poesia”, está reunida parte significativa dos nove livros publicados em vida pelo autor polaco da linguagem transparente, musical e humanista. Cavalo de Ferro, 344 págs., €20,45
4. Mais uma Desilusão
Valério Romão
Primeiro livro de poesia de um escritor que descompassou a cena nacional com livros com escalpelo narrativo afiado, Mais uma Desilusão não é formalmente convencional. Haverá quem o rotule como prosa poética, e haverá quem siga o ritmo cardíaco das frases espaçadas na página deste longo poema único. Mas o que importa dizer é que é uma enxurrada poética, que traz memórias, revoltas, mordacidades sobre um Portugal de pequeninos nos cafés de bairro e nas assembleias nacionais, crises de meia-idade, (pre)conceitos, ridicularias. Valério Romão não poupa nada nem ninguém, nem a si próprio. Abysmo, 64 págs., €13
5. Tisanas
Ana Hatherly
São 463 “tisanas”, objetos poéticos assim intitulados porque Ana Hatherly (1929-2015) os considerava “infusões e não efusões.” Reclamando influências das vanguardas do século XX e do budismo zen, e a “pesquisa das estruturas da narrativa”, estes breves poemas em prosa refletem arte, memória, quotidiano. Leia-se, em Tisana 452: “O verdadeiro sábio escreve incessante o livro do não-saber, o livro do desassossego.” Assírio & Alvim, 224 págs., €22,20
6. O Centro da Terra
José Tolentino Mendonça
A elegia é um porto com muitos barcos. Em 25 poemas divididos em três “sequências”, o poeta, cardeal do Vaticano e Prémio Pessoa 2023 faz o seu luto literário pela perda da mãe. As begónias maternas, o barro da criação, a dor fantasma, a compaixão, tudo ilumina essa orfandade que “corta o fio que nos ligava às constelações”: “Toda a mãe é uma expedição/ enviada às origens/ uma sonda capaz de recolher o soterrado/ no seu incandescente sedimento/ na sua remanência/ porque somos seres que nunca se soltam bem/ seres nunca completamente nascidos”. Assírio & Alvim, 64 págs., €14,40
7. Claridade
João Luís Barreto Guimarães
Poeta atentíssimo, Barreto Guimarães regressa com 39 poemas escritos, entre 2022 e 2024, no Porto, Venade e “algumas cidades estrangeiras”. Do Mediterrâneo à Europa, por onde anda a “bomba obediente”, o poeta alça-se a observatório da “vida autêntica”. “Não percas tempo/ com poesia”, lança, irónico. Por tentadores que sejam o lírico mar e as estevas, ele exercita também o verso sobre a gaveta dos talheres (metáfora para a política de dois Estados na Terra Santa); o limpa-para-brisas que “só se ergue para discordar”; o espelho quebrado: “Que ocasião perdida! Isso/ da democracia: parecia uma ideia/ tão boa.” Quetzal, 64 págs., €12,20