Paulo Bragança
Luís Carvalhal
Foi uma das maiores figuras da nova geração de fadistas nos anos 90, sempre com uma postura arrojada e desafiante e uma voz esplendorosa. Caiu nas graças de David Byrne e chegou a gravar na norte-americana Luaka Bop, abrindo portas para um percurso internacional. Só que, depois, desapareceu. Como que por magia ou consequência inevitável da intensidade que imprimiu a tudo o que fez. Sabe-se agora que viajou pela Europa, viveu incógnito na Irlanda e até participou numa curta-metragem.
Paulo Bragança está de volta. Com alguns concertos, mas também com este EP, Cativo, aperitivo para o álbum Exílio, que sairá ainda este ano, com produção de Carlos Maria Trindade. Nestas sete faixas, tal como nas aparições ao vivo, fica claro que o fadista mantém a sua atitude irreverente, de quem desafia os cânones, sem nunca perder a alma fadista.
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Cativo é um EP em que Paulo Bragança canta sete temas, alguns dos quais gravados ao vivo. Versões de Remar Remar, dos Xutos & Pontapés, e Soldado, dos Sitiados, confirmam a heterodoxia deste fadista
Começa com Rosa da Noite, de Ary dos Santos e Joaquim Gomes, popularizada na voz de Carlos do Carmo. Passa pelo tradicional Biografia do Fado, de Frederico de Brito. Revisita o seu próprio repertório, com Peregrino, escrita com Carlos Maria Trindade, e Mistérios do Fado, escrita para Mísia por João Monge e Manuel Paulo. E entra pelas mais ousadas versões de Remar Remar, dos Xutos & Pontapés, e Soldado, dos Sitiados, ambas cantadas de uma forma visceral e fadista que lhes acrescenta intensidade. No final do disco, interpreta Caoineadh na Dtrí Mhuíre, um tema tradicional irlandês, cantado em gaélico, que também é uma forma de homenagear aquela que passou a ser a sua segunda pátria. Durante a ausência de Paulo Bragança, muito se fez no panorama da música portuguesa, mas fica aqui claro que o fadista ainda tem uma palavra a dizer no fado e nas suas encruzilhadas.