Depois do êxito em toda a linha da sua estreia em disco (com Gisela João, de 2013), a fadista nascida em Barcelos em 1983 viu-se naquele dilema clássico: e agora, o que fazer para o segundo disco? Perante esta questão recorrente há artistas que escolhem uma rutura com o primeiro trabalho, para evitar repetições e poderem mostrar do que são capazes, e outros que, sem medos, seguem exatamente o mesmo caminho, até correndo o risco de serem acusados de se fixarem numa fórmula. O regresso de Gisela João encaixa melhor, claramente, na segunda hipótese.
Aliás, em vários aspectos, Nua tem semelhanças simétricas com o disco anterior. Em 2013 a rapper Capicua reescrevia (A Casa) da Mariquinhas, agora conta-nos uma história da noite de São João no Porto. Há três anos, Gisela não hesitava em entrecortar os fados com um Bailarico Saloio e uns Malhões e Vira; agora temos o folclore de Lá na Minha Aldeia (“Repara Maria que assim como eu faço é que é!”). Ricardo Parreira e a sua guitarra portuguesa continuam na ficha técnica, assim como uma irrepreensível seleção de fado puro e duro, com letras antigas e contemporâneas. A voz de Gisela, essa, consegue soar tão autêntica e poderosa nos momentos de gravidade intensa como naqueles de descontração e jovialidade (por exemplo, na sua versão de O Senhor Extraterrestre, letra de Carlos Paião para uma interpretação de Amália em 1981).
Mas também há novidades, em forma de viagem. Na direção das canções brasileiras de Cartola (As Rosas Não Falam e O Mundo é um Moinho) e da poderosíssima La Llorona, celebrizada por Chavela Vargas.
No resto, é mais do mesmo? Talvez, mas o “mesmo” era tão bom que nós só podemos agradecer.
Veja o vídeo de Labririnto ou Não Foi Nada, com letra de David Mourão-Ferreira