Nos últimos anos, a cada novo disco de Leonard Cohen, lá vem a conversa sobre a sua grande saída de cena. Mas as notícias sobre a sua… despedida têm sido claramente exageradas. E aqui estamos, mais uma vez, a escrever sobre um recém chegado álbum do músico canadiano de 82 anos. A verdade é que, mais do que nunca, este You Want it Darker presta-se a essa leitura. Logo no tema de abertura, que dá nome ao disco: “Hineni, hineni [expressão hebraica, com o signficado de “aqui estou”, que remete para uma citação bíblica de Abrãao], I’m ready my Lord [Estou pronto, Senhor]”.
Mais à frente, em Leaving the Table, ouvimos Cohen dizer “I’m leaving the table, I’m out of the game… [Vou sair da mesa, estou fora do jogo]”; e, cheio de charme, temperado por cordas de sabor mediterrânico, em Travelling Light, diz-nos mesmo uma espécie de adeus: “I’m travelling light, it’s au revoir” [“Viajo leve, é um adeus”].
Musicalmente não há novidades. Nem faria sentido ser de outra maneira. São nove canções quase sempre melancólicas, com coros de vozes femininas a contrastarem com aquela voz cava, que parece estar ali desde sempre. Há linhas de baixo bem marcadas, violinos, guitarras acústicas, piano ou teclados a planar e também coros masculinos (de uma sinagoga em Montreal, cidade natal do músico). Tudo a servir a palavra. Não chegamos ao fim destes 36 minutos de música propriamente com um sorriso nos lábios, o que fica é uma sensação de serenidade, longe das correrias do tempo. Não são, afinal, as trevas que ganham. E Leonard Cohen foi aquela voz que, em 1992, nos disse que tinha visto o futuro, e era… “murder” [assassínio].
Por subtil que seja, o humor é um dos ingredientes que fazem da obra de Cohen o monumento que ela é na história da música popular. E também se encontra aqui, iluminando, discretamente, o escuro do título… Em declarações recentes, o músico disse para não nos preocuparmos porque a sua intenção é viver para sempre. Pode ser que tenha razão.
Ouça aqui a música You Want It Darker