Mar sem fim, de um lado, campo a perder de vista, do outro. Soa a postal, sim, e no entanto é esta a paisagem que brinda quem chega à Herdade do Touril, 365 hectares de terra, entre a Zambujeira do Mar e o Cabo Sardão. Durante a estada, outras imagens hão de ficar guardadas na memória, mas sobre isso falaremos mais à frente, é preciso esperar que a noite caia. À luz do dia, explore-se os recantos da herdade, que reabriu totalmente remodelada em abril de 2018, “para continuar a ser uma referência, como quando inaugurou há 15 anos”, diz Luís Leote Falcão, o proprietário. “Era preciso reposicionarmo-nos, voltámos diferentes, mas com o mesmo espírito”, afirma.
Nove meses de obras depois, são agora 18 quartos, divididos entre cinco edifícios, que se descobrem lentamente, sem pressas, até porque o pequeno-almoço é servido até ao meio-dia, dando margem para aproveitar terraços e varandas. Pelo caminho, há de encontrar os animais da herdade – dois burros, ovelhas e vacas – e a horta biológica, de área generosa, onde crescem couves, pimentos, curgetes e ervas aromáticas. Da decoração anterior do Touril ficaram 12 objetos, entre os quais os relógios que estão na receção, a marcar o fuso horário de Nova Iorque, Sidney, Hong Kong e o da herdade, parado nas oito e meia com um propósito. “Perder-se a noção do tempo, desconectar, é essa a ideia”, explica o proprietário. Entre o que ficou, há ainda que destacar os dois quadros de grande formato com os retratos de um casal de alentejanos, da autoria de Diogo Muñoz, e o armário de mercearia antigo, onde está o honesty bar (os hóspedes servem-se de bebidas ou café e apontam o que consumiram) e alguns livros de consulta livre. O azul-claro – a cor do Touril, do mar e da piscina exterior de água salgada aquecida, para ser utilizada durante todo o ano – é o fio condutor da nova decoração, um projeto da arquiteta Joana Borges de Carvalho, que aqui tem uma loja com objetos e produtos portuguese
Paisagem escarpada e céu estrelado
A Herdade do Touril fica a cerca de um quilómetro do mar, em linha reta, um percurso que se faz a pé, pelos terrenos da propriedade, até se alcançar a costa escarpada. Ali, observam-se os ninhos das cegonhas-brancas e, lá em baixo, o areal da Praia do Tonel. Estamos em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, numa zona onde o céu também é estrela. Quando cai a noite, é obrigatória a nova fogueira exterior, com bancos à volta, para admirar as constelações.
O Trilho dos Pescadores, um percurso costeiro que era usado pelos locais para acesso ao mar, recuperado pela Rota Vicentina, atravessa o Touril e tem trazido cada vez mais hóspedes, principalmente na primavera e no outono, época alta das caminhadas. A partir da herdade, há outros percursos pedestres (circulares ou não) e de bicicleta – estes, com distâncias que vão dos cinco aos 64 quilómetros e diferentes níveis de dificuldade. A pé ou em duas rodas, aproveite–se o serviço de piquenique, ideal para fazer uma pausa pelo caminho.
A parceria com a Tasca do Celso, restaurante em Vila Nova de Milfontes, veio dar outro gosto à estada. Durante o verão, as iguarias são servidas no bar da piscina, ao longo do dia; no inverno, a carta é mais curta – tem sugestões como açorda de gambas ou filetes de peixe-galo com arroz de feijão – e é servida apenas ao jantar, na sala do restaurante. Na hora de fazer check-out, é oferecido um pão alentejano cozido em forno a lenha, numa padaria tradicional da Zambujeira do Mar. E é também por isso que este pedaço de Alentejo deixa saudades a quem o visita.
Herdade do Touril > Zambujeira do Mar, Odemira > T. 283 950 080 / 93 781 1627 > a partir de €110
Aqui à volta: Passear, beber e comer, no Alentejo à beira-mar
1.Farol do Cabo Sardão
Entre Almograve e a Zambujeira do Mar está o cabo Sardão, ponto mais ocidental da costa alentejana, onde o farol com 17 metros de altura guarda a costa desde 1915. Uma das curiosidades deste farol é a sua torre, construída do lado terra, em vez do lado mar. Aqui, estamos também no único local do mundo onde as cegonhas-brancas nidificam nas escarpas. Cabo Sardão, Odemira > reservas: dfarois.rp@amn.pt > qua 13h30-16h30 (inverno) > qua grátis (por ordem de chegada), restantes dias €4,50 (visitas guiadas, sob marcação)
2.Bar da Praia by Casas Brancas
Abriu portas há cerca de um ano e meio, junto à praia de Almograve, e serve hambúrgueres, bruschetas, saladas, gins, cocktails ou um simples chá. A partir do balcão, virado para o mar, seja verão ou inverno, tem-se uma das melhores vistas para apreciar o Sol a pôr-se no mar. Praia de Almograve, Odemira > das 11 horas ao pôr do Sol
3. Tasca do Celso
Nos dias frios, a lareira acesa da sala da garrafeira cria o ambiente certo para uma refeição na Tasca do Celso, em Vila Nova de Milfontes. Aconselha-se reserva, principalmente no verão, pois os créditos da cozinha tradicional, com base nos produtos frescos, trazem clientes de todo o lado. A carta é variada: nas entradas, conte-se com mais de uma dúzia e meia, entre enchidos alentejanos de porco preto, bruscheta de sarrajão e pica-pau; nos pratos principais, destaque-se a massinha de robalo, a açorda de amêijoa, o bife à la plancha ou as costeletas de cordeiro na brasa. Em caso de dúvida, o proprietário José Cardoso – que não se chama Celso e é de Lamego, não do Alentejo – e a sua equipa estão lá para ajudar. R. dos Aviadores, Vila Nova de Milfontes > T. 283 996 753 > ter-dom 12h-15h, 19h30-23h