Aquele 26 de dezembro de 2019 mudou tudo e entra rápida e inevitavelmente na conversa. Almira Vila Nova e Frederica Benedita não o esquecem. Foi o dia em que a histórica empresa Publicações Europa-América, fundada em 1945 por Francisco Lyon de Castro, apresentou insolvência. Para Almira, representou o fim de uma carreira de 28 anos, dedicada sobretudo à parte das livrarias da editora; para Frederica, foi o ponto final num percurso de 38 anos ligado à parte comercial. Não perderam tempo. “Não sabíamos fazer mais nada…”, dizem. Logo, em janeiro, estavam a fundar uma nova empresa, só delas, com o objetivo fundamental de continuarem a sua vida profissional ligada aos livros.
Em fevereiro, quando ainda parecia que 2020 seria um ano normal, reabriram a antiga livraria da Europa-América na Parede, Cascais. A ideia era que, em abril, conseguissem fazer o mesmo no espaço lisboeta das Avenidas Novas que, durante muitos anos, foi a principal livraria/papelaria da empresa. Missão impossível, claro. Mas as portas abririam a 15 de junho, com vontade de fazer frente a todas as adversidades.

Quem ali entra, hoje, encontra um ambiente acolhedor, com algumas peças de mobiliário que parecem ter vindo diretamente da casa de alguém (e vieram mesmo, das duas voluntariosas proprietárias daquele lugar). Nas estantes, cruzamo-nos com as novidades editoriais de variados géneros, revistas, volumes provenientes do extenso fundo de catálogo da Europa-América (adquirido, em parte, pelas sócias da nova livraria), livros em segunda mão, álbuns de fotografia e livros de arte, uma secção de papelaria… Parece haver, ainda, por ali, entre tantos livros, uma busca pela fórmula e arrumação certas, mas o que não falta é o entusiasmo de quem decidiu não baixar os braços.
O nome da nova livraria – que, tal como aconteceu na Parede, atraiu muitos dos clientes que já conheciam aquele espaço dos tempos da Europa-América – partiu de uma frase de Almada Negreiros que recebe os clientes numa parede: “Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam. Não duro nem para metade da livraria.” Como se costuma dizer, “haja saúde!”, uma expressão ainda com mais sentido neste estranho ano que vivemos.

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