Já cá andamos há muito tempo e por isso lembramo-nos bem da altura em que o chefe Kiko Martins abriu a Cevicheria, vai para 11 anos. Foi um caso de sucesso imediato, dada a originalidade do projeto – todo ele dedicado à gastronomia do Peru – e a qualidade do que nos serviam. Depois, as filas constantes, agudizadas pelo despontar do turismo lisboeta, afastaram muitos desta casa que fica no caminho de quem vai do Príncipe Real para o Chiado. E ela tem estado entregue a clientela estrangeira, que não se importa de ficar uma hora à espera de mesa ou de uma cadeira ao balcão de mármore (o melhor spot da Cevicheria).
O restaurante é pequeno e ainda hoje não aceita reservas. No entanto, é importante dizer que está aberto o dia todo, que se pode comer fora de horas, que a esplanada aberta entretanto tem uma carta de picoteo, com três piscos e seis opções (ajuda à espera ou pode até servir de refeição ligeira) e que à terça à noite e à quarta ao almoço, vá-se lá saber porquê, o fluxo é menor.
Comprovámos isso mesmo sentados ao balcão, por baixo do enorme polvo que continua pendurado no teto. Aliás, nada mudou na decoração deste restaurante. Mas na carta quase nada se mantém. A apresentação aprimorou-se e os sabores intensificaram-se. O produto de base é maioritariamente português, de qualidade, as receitas são peruanas, saídas da experiência de Kiko por terras sul-americanas.
Por estes dias é provável ver o chefe em ação na Cevicheria, mas quando abrir, ainda este mês, o Le Bleu, em Campo de Ourique – nova aposta numa carta à base de peixe e marisco –, será lá que passará mais tempo. “Trata-se de uma abordagem criativa a estes produtos. Não haverá nem amêijoas à Bulhão Pato nem gambas a la guillo”, avisa Kiko Martins
Agora é possível deixar-se levar pelas mãos do chefe e, a troco de €78,60, provar cinco pratos e uma sobremesa. Começamos por umas ostras Guillardeau (€12,70) que são cozinhadas no forno durante seis minutos, a 65ºC. Como lhes põem uns elásticos à volta, não perdem a água, mas perdem a agressividade de um alimento cru. A tapioca de beterraba faz o resto da magia.

Seguem-se umas minicausas peruanas, feitas com base de batata e tinta de choco, lavagante e gamba do Algarve em cima (€14,90). Os cucuruchos são cones de massa brick que levam diferentes recheios. Provamos um com três níveis de texturas e sabores: ácido do tártaro de barriga de atum, gelado de abacate e picante do wasabi.
Ainda nos deliciamos com um ceviche de lavagante assado com puré de aipo (€41,80) e um tiradito de lírio (€21,80). Este último é considerado pelo chefe um “prato sedutor”, pela presença da framboesa fermentada que lhe dá uma cor especial. Poderíamos continuar a discorrer sobre a ementa, que ela não para de nos surpreender, mas não levantamos mais as pontas. Vale a pena lá ir, sentir tudo isto e sair com as papilas gustativas em estado de êxtase.
Cevicheria > R. D. Pedro V, 129 > T. 21 803 8815 > seg-dom 12h-24h