Bebemos vinho pelas mais variadas razões: saúde, prazer, sociabilidade, cultura, celebração, ritual e romance, entre outras. Fernando Pessoa, poeta genial e consumidor militante – era vê-lo “decilitrar” no Abel Pereira da Fonseca! –, resumiu-as em dois versos: “Ora o vinho bebemos porque é festa, / Ora o vinho bebemos porque há dor”.
A escolha do vinho é geralmente determinada pela conjugação de três fatores: o gosto pessoal, a qualidade e o preço. E encontramos, às vezes, motivos particularmente nobres para beber, como sucede com os vinhos Howard’s Folly (de Howard Bilton, empresário e colecionador de arte britânico, residente em Hong Kong, e de David Baverstock, enólogo australiano, radicado em Portugal há muitos anos, sendo diretor de enologia do Esporão), de cuja venda se retira uma percentagem para apoiar crianças desfavorecidas.
Howard conta que descobriu em Hong Kong os vinhos do Esporão, rendeu-se-lhes, entrou em contacto com David e propôs-lhe uma parceria para fazer vinhos premium no Alentejo. Desafio aceite e, em 2002, o projeto arrancou com uvas compradas a agricultores locais – de pequenas parcelas de vinhas velhas – e vinificação em adegas alugadas. Em 2018, nova fase com adega própria: a adega urbana de Howard’s Folly, dedicada à produção de vinho, à gastronomia – com o restaurante The Folly –, às artes – mediante exposições – e à solidariedade social – através da Sovereign Art Foundation, criada por Howard Bilton para apoiar crianças carenciadas. Entretanto, David Baverstock criou vinhos brancos, tintos e rosés personificados e com garantia de qualidade dada pela sua assinatura, incluindo um Alvarinho, com uvas adquiridas a agricultores de Monção e Melgaço. O rosé foi lançado este ano, sob a marca Sonhador, e é dele que falamos.
Não foi referido acima, mas é preciso dizer que, às vezes, bebemos simplesmente por nos deixarmos cair na tentação do vinho. Há vinhos assim, tentadores, como o Casa do Capitão-Mor Alvarinho Sobre – Lias Branco 2016, que a família proprietária da Quinta de Paços lançou este ano no mercado.
Também não podia ficar sem registo a nova marca de vinhos da José Maria da Fonseca, proveniente da Adega José de Sousa, em Reguengos de Monsaraz, Alentejo, composta pelo Monte da Ribeira Tinto 2018 e Monte da Ribeira Branco 2019. São vinhos de carácter genuinamente alentejano. Desta vez, provamos o tinto.
Howard’s Folly Sonhador Regional Alentejano Rosé 2019
Elaborado com uvas das castas Aragonês (65%) e Castelão (35%), de vinhas das encostas de São Mamede, Portalegre, é um vinho elegante e rico, com aspeto brilhante, cor levemente salmonada, aroma intenso com delicadas notas de frutos vermelhos e um toque de baunilha, paladar com corpo e estrutura, rico em fruta, vibrante na acidez, sem açúcar residual (embora pareça, mas é só fruta). Muito gastronómico. €12
Casa do Capitão-Mor Alvarinho Sobre – Lias Branco 2016
Cem por cento Alvarinho. Parte do lote fermentou em inox, outra em curtimenta, permanecendo sobre as borras finas, ou lias, durante 34 meses, numa tentativa de recriar os Alvarinhos antigos, de boa memória. Tem aspeto brilhante, cor amarelo-palha, aroma fino e complexo a fruta de caroço desidratada, compotas e café, paladar elegante com sugestiva untuosidade, final longo e persistente. Um vinho muito sedutor. €28
Monte da Ribeira Regional Alentejano Tinto 2018
Lote das castas Aragonês, Trincadeira, Syrah e Alicante Bouschet, das vinhas da Herdade do Monte da Ribeira, algumas velhas, com mais de 65 anos. Tem cor rubi, aroma limpo com boas notas de fruta e leve toque de madeira, paladar também frutado com bons taninos e acidez equilibrada, medianamente encorpado, elegante e com final agradável. €6,99