Lisboa já se acostumou a ser presenteada, nesta altura do ano, com uma especialidade da gastronomia transmontana que anda ligada ao Carnaval (tempo da matança do porco): butelo com casulas, ou cascas, como também lhes chamam. O acontecimento envolve a Câmara Municipal de Bragança e o restaurante O Nobre, em Lisboa, no Campo Pequeno, onde a chefe Justa, transmontana dos quatro costados, apresenta essa iguaria da forma mais genuína (um cozido de butelo, estranho enchido com carnes, cartilagens e ossos, e de casulas, ou cascas, curiosas vagens de feijão secas e demolhadas), todas as quintas–feiras, ao almoço, até meados de março. Uma iguaria de Entrudo para ser levada a sério. Caso realmente sério é o buffet de cozido à portuguesa servido em O Nobre nos almoços de domingo, de princípios de setembro a finais de maio, período que tem vindo a ser alargado devido ao sucesso do prato. O cliente escolhe o que quiser e as vezes que lhe apetecer, tão seguro da qualidade das carnes, dos enchidos e dos legumes como do acerto das cozeduras ou do prazer da refeição (€27,80).
Mas há muito mais neste restaurante apurado e discreto com acentuado toque familiar (cozinha à conta de Justa e das suas irmãs Ana e Guida, com a colaboração de Zeza e André; sala confiada ao marido, José Nobre, e ao cunhado Paulo). Chamam logo a atenção, no couvert, as torradinhas e as manteigas temperadas. Insinuam-se, depois, vários petiscos, como saladinhas de pimentos, de favinhas com morcela e de polvo, peixinhos da horta, ovos mexidos com espargos ou tomate, camarões fritos ao alhinho, os quais, todavia, não devem fazer esquecer as entradas, sobretudo o pâté de foie gras com doce de tomate e salada verde, o queijo de cabra com mel e nozes, as vieiras salteadas com vinhos moscatel, as amêijoas à Bulhão Pato e a sapateira recheada, nem as sopas, em especial a de santola, justamente considerada prato clássico da casa.

Nos pratos principais há outros clássicos a não perder: robalo à Justa, sendo o peixe cozinhado simplesmente no vapor com um fio de azeite e ervas frescas e acompanhado com batatas cozidas, cenouras e esparregado; perninha de cabrito assada no forno à transmontana, acompanhada com batatas louras e grelos; e perdiz à transmontana, suculento estufado com vinho do Porto, que vem com castanhas, batatas assadas e grelos salteados. São igualmente recomendáveis: cataplanas de peixe (peixes e mariscos) e de marisco (só mariscos), que rescendem e sabem muito bem; arroz de marisco, com lagosta, sapateira, camarão pequeno, camarão-tigre, carabineiro e amêijoas, só estas com casca, a decorar; rolinhos de linguado, com camarão, cogumelos ou espargos; caris de caranguejo, de camarão e de vegetais, todos suaves na textura e no sabor; e folhados de caça, empadas de vitela, carré de borrego, enfim, tudo o que é feito com aqueles produtos e por aquelas mãos apetece!
Por fim, as sobremesas deixam-nos eternamente gratos à Guida: sopa dourada, bolo de chocolate, arroz-doce, farófias, etc., sem deixar de incluir o pastelinho de nata que acompanha o café. Excelente garrafeira. Serviço atento, delicado, profissional.
O Nobre by chef Justa Nobre > Av. Sacadura Cabral, 53B, Lisboa > T. 21 797 0760 > seg-sex, dom 12h15-15h, 19h15-23h, sáb 19h15-23h > €40 (preço médio)