Esta mercearia, na realidade muito mais do que uma mercearia, é daqueles locais bastante conhecidos no bairro onde abriu portas, há dois anos. Mas facilmente passa despercebida a quem só esteja em Santos de raspão. Abram-se então os olhos e apure-se o faro, porque vale mesmo a pena cruzar a porta e descobrir o que aqui está à venda.
Convém chegar perto da hora do almoço para poder apreciar a montra da comida ainda intacta e babar enquanto se decide por onde dar início à refeição. Lá dentro há saladas para compor (€4,95 ou €6,95) e sanduíches com ar nórdico (baguetes €3,50, ciabattas €3,95, bagels €3,95), que contemplam opções veganas e sem glúten. Os ingredientes são apanhados nas prateleiras, ora dos legumes biológicos de produtores locais ora dos queijos nacionais e internacionais, por exemplo. É suposto levar-se a comida daqui para fora em embalagens biodegradáveis, que depois se deitam no lixo orgânico, com consciência ambiental. Mas também dá para almoçar, lanchar ou beber um café nos poucos lugares disponíveis (a maioria na mesa central de madeira). Para os clientes habituais, que não gostam de beber em copos de cartão, existe um cacifo para arrumar as canecas que trazem de casa para ficarem na Mila.
Aqui também se pode comprar húmus e outras pastas típicas do Médio Oriente, como baba ghanoush, e vinhos bio ou cerveja artesanal. Mais perto do balcão, dá-se de caras com a zona que convida ao pecado, embora moderado: são bolos caseiros à fatia, barras de granola, muffins, pão de banana, papas de aveia, pudins de chia e, claro, pão da Gleba. “Setenta por cento do que vendemos é feito por nós”, garante Tiago Rodrigues Jorge, 35 anos, o dono, que é casado com a inglesa Mila (essa mesmo, a que dá nome ao sítio). Conheceram-se em Londres, na mercearia em que Tiago trabalhava, e ainda pensaram em emigrar para o Canadá, mas no final ficaram a ganhar Lisboa e o bairro de Santos. Hoje, estão totalmente inseridos neste microcosmos lisboeta e fazem questão de integrar a sua loja na vida do bairro. Desde os clientes habituais, estrangeiros e portugueses, às associações locais que teimam em ajudar. Por exemplo, estão a organizar, com os comerciantes e moradores locais, a primeira Festa Estranha, no jardim da Igreja de Santos, que decorrerá no domingo, dia 16 de fevereiro. A ideia é ser uma data em que se estimula o convívio social, o encontro de vizinhos multiculturais e uma chamada de atenção para a solidariedade e apoio aos idosos da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho.

Mercearia da Mila > R. de Santos-o-Velho, 38, Lisboa > T. 21 581 7699 > seg-sáb 8h-19h, dom 8h-18h