
O restaurante está instalado no antigo armazém ferroviário da estação de caminhos de ferro de Vila Real
Quem andar pelo Douro deve incluir no seu itinerário pelo menos um desembarque no Cais da Villa, a fim de apreciar a sua cozinha de raiz tradicional com interpretação contemporânea. Assim fizemos, mais uma vez, e valeu a pena: instalado no antigo armazém ferroviário da estação de caminhos de ferro de Vila Real, o restaurante está cada vez mais atraente, tanto no espaço – sala de refeições elegante, cozinha ampla e bem equipada, wine bar autónomo, embora contíguo, onde há bons vinhos e petiscos, e esplanada aberta a conversas e a encontros, tudo moderno, sóbrio, confortável – como na gastronomia, valorizando os produtos da região com a criatividade e a técnica do chefe Daniel Gomes.

A ementa, que é breve – cinco entradas, três pratos “clássicos”, três de peixe, três de carne, cinco sobremesas, seleção de fruta laminada, tábua de queijos portugueses, compotas caseiras, tostas e frutos secos, menu de degustação com quatro momentos (€35) e menu executivo de segunda a sexta-feira, ao almoço (€12,50, com entrada, prato e sobremesa) – permite que o serviço seja rápido e que a renovação dos pratos decorra a qualquer tempo, conforme o mercado e a época. Mas já cativou iguarias como, por exemplo, nas entradas, o creme aveludado de ervilhas com vieira e lagostim braseado, com sabor e textura delicados; e o carpaccio de vitela maronesa, em que sobressai, não apenas a qualidade da carne (com leve maturação) mas também a sua combinação com outros produtos da terra, do queijo Terrincho aos pinhões tostados, às folhas verdes (agriões, canónigos ou rúcula), ao pimento fumado e ao molho de rábano, numa mescla de sabores e de texturas capaz de lançar a refeição para o êxito.
Nos pratos principais, o camarão-tigre grelhado com risotto de sapateira traz aromas e sabores a mar, o marisco com um discreto toque de ervas aromáticas, o cereal leve e perfumado com o caldo de marisco em que cozeu; o polvo grelhado com migas de espinafres e molho de pimentos assados, é muito suave, colorido e gostoso; o naco maronês grelhado com guarnição do monte, que se impõe, desde logo, pela suculência da carne, sublinhada pela guarnição com vários apontamentos de beterraba, aipo e castanha em puré, de cogumelos, de espargos, de cenoura e outros, como o jus de vitela; o cordeiro transmontano corado com alecrim, que aparece em três texturas, sendo a barriga confitada, recheada com alheira de caça e caramelizada no sauté para ficar com a pele estaladiça, o lombo corado e a pá e a perna estufadas em vinho tinto e desfiadas (a carne desfiada vem com puré, a barriga e o lombo com favas); o simples e “clássico” costeletão grelhado de novilho maturado a 22 dias com a batata frita palito e a salada mista da praxe (para duas pessoas). Entre as sobremesas elegemos o pão de ló à Cais da Villa, servido com uma base de creme de ovos, frutos vermelhos e gelado de tangerina, que é sedutor, tal como as demais criações da chefe pasteleira Graça. Carta e serviço de vinhos de categoria, com o Douro em alvo. Serviço jovem, eficiente e delicado.
Cais da Villa > R. Monsenhor Jerónimo do Amaral, Vila Real > T. 259 351 209 > seg-sáb 12h30-15h, 19h30-22h30, dom 12h30-15h (o bar tem horário mais alargado) > €35 (preço médio)