Eis a história de um enólogo, Hugo Mendes, e do seu vinho, Lisboa (só este é dele, mas faz outros), que não é grandiosa, pelo menos por enquanto, mas tem pormenores inspiradores de criatividade, irreverência, ousadia, convicção e persistência. Ribatejano de gema, da Ribeira de Santarém, Hugo Mendes estudou Engenharia Biotecnológica, mas a paixão pelos vinhos levou-o a dedicar-se inteiramente à enologia, desde 2006, tendo o seu nome ligado às marcas Quinta da Murta, Quinta das Carrafouchas e Vale das Areias. Entretanto, criou um blogue para mostrar “o lado de dentro da produção de vinhos”, por ser “amante da comunicação da arte aos consumidores”. E, em 2016, tornou-se produtor em nome próprio, apesar de não ter uvas nem dinheiro para tal. Porém, dispunha de outros recursos.
Através de um sistema de pré-venda – o primeiro crowdfunding, em Portugal, para produzir um vinho próprio –, conseguiu financiar o seu projeto na íntegra. Foram, pois, os consumidores finais, a quem ele chama de patronos, que lá puseram o dinheiro. Em compensação, compraram o vinho mais barato e puderam acompanhar de perto o modo como o perfil desse vinho foi desenhado, com informação pormenorizada, quase só faltando pôr lá as mãos. Precisava de vender por este meio 800 garrafas no primeiro ano, vendeu 877, de um total de 2 300 produzidas; no segundo ano, as pré-vendas subiram, a pedido dos “patronos”, para 1 032 garrafas, de um total de 2 700. Este ano já aponta para uma produção de 10 000 garrafas!
A nota mais interessante deste negócio é a liberdade criativa do enólogo para traçar o perfil do vinho, ensaiar, criar coisas novas, com os riscos inerentes, que os produtores naturalmente querem evitar. E é por isso que o Lisboa Branco 2017 tem identidade própria, mesmo tratando-se de um projeto em construção. É diferente do de 2016, tal como será o de 2018, ano de nascimento do Hugo Mendes Lisboa Tinto, com as castas Castelão, Touriga Nacional, Touriga Franca e Aragonês. E as coisas não vão ficar por aqui.
Hugo Mendes Lisboa Branco 2017
Uvas das castas Fernão Pires e Arinto com vinificação conjunta, 30% fermentou em barricas de carvalho francês usadas. Aroma limpo, elegante, com delicadas notas de fruta, como maçã verde e citrinos; paladar muito fresco e vigoroso com qualidade e caráter, e final longo, impressivo, ainda com o equilíbrio da acidez e da fruta a evidenciar-se. €15