Manter os azulejos do pintor e ceramista Querubim Lapa era uma das principais preocupações da Alcôa
Mário João
Vão longe os tempos em que aqui funcionava uma tabacaria, onde o escritor Eça de Queiroz vinha com frequência comprar charutos. Mais tarde, a pequena loja do Chiado, em Lisboa, haveria de se transformar na Casa da Sorte e assim se manteve entre 1963 e 2015. Agora já não se preenchem boletins de Euromilhões, Totobola ou Totoloto nem se compram lotarias ou raspadinhas, mas podem saborear-se os doces conventuais da conhecida pastelaria Alcôa, fundada em 1957, em Alcobaça. “Sempre tivemos o sonho de abrir uma loja em Lisboa, no Chiado, nesta rua e na antiga Casa da Sorte”, diz Paula Alves, proprietária da Alcôa.
O desejo tornou-se realidade, depois de quase dois anos de obras de renovação. Manter os azulejos do pintor e ceramista Querubim Lapa era uma das principais preocupações da nova gerência. “São uma mais-valia e um grande motivo de orgulho”, acrescenta Paula Alves. Houve até um encontro com o artista para garantir que enquanto ali estivesse a Alcôa os azulejos estariam protegidos.
Quando se entra, depois de se respirar de alívio por ver os painéis intactos, pode dar -se a devida atenção aos doces, a maioria de origem conventual. Na vitrina do balcão, estão o Manjar dos Deuses (€2,70), com abóbora e amêndoa; os Mimos de Freira (€2,10), com gemas e açúcar; os Segredos D. Pedro (€2,70), com maçãs e passas; o Torrão Real (€3,40), com gemas e amêndoas, entre muitos outros.
As Cornucópias, o doce mais vendido (e premiado), feito com massa frita em azeite, recheada com doce de ovos, têm lugar de destaque na nova pastelaria com cerca de 60 metros quadrados: na montra, no balcão e atrás dele, elas estão por todo o lado. “É o que mais cativa e fideliza os nossos clientes”, revela Paula Alves – e o que mais vicia, também, acrescentaríamos nós.
Os doces, feitos na cozinha da Alcôa, em Alcobaça, chegam a Lisboa todas as manhãs. No Chiado apenas se cozinham os pastéis de nata (€1,10) e, assim que estão prontos a sair do forno, ouve-se o sino tocar, a dar aviso aos mais gulosos, que os podem saborear logo ali, em pé, encostados a uma das janelas ou à prateleira onde antes se preenchiam os boletins de jogo.
O segredo do êxito desta pastelaria prestes a celebrar 60 anos deve-se à confeção artesanal dos doces, bolos de aniversário e de sobremesa, garante Paula Alves. “Partimos os ovos, mexemos os ingredientes à mão e levamos ao lume em panelas de cobre”, explica. E estes são apenas alguns detalhes aos quais se acrescenta “muito amor e dedicação”, conta.
As Cornucópias, o doce mais vendido (e premiado), feito com massa frita em azeite, recheada com doce de ovos, têm lugar de destaque na nova pastelaria
Mário João
Na longa história da Alcôa há vários doces premiados, além da Cornucópia. O Torrão Real, vencedor, em 2016, no Concurso Doces e Licores Conventuais é o mais recen-te laureado desta pastelaria. Já em 2014, foram os pastéis de nata da Alcôa a ganhar o concurso O Melhor Pastel de Nata no festival Peixe em Lisboa.
Alcôa > R. Garrett, 37, Lisboa > T. 21 136 7183 > seg-dom 9h-22h