Publicado este mês pela Associação Americana para a Investigação Oncológica, um novo estudo estima em 13% a percentagem de casos totais de cancro registados a nível mundial em 2018 (2.2 milhões) que têm na sua origem uma infeção por vírus ou bactérias, o que quer dizer que há a possibilidade de serem travados com vacinas e tratamentos. Embora não sejam as únicas, os investigadores centraram-se nestas quatro infeções porque representam mais de 90% dos casos de cancro atribuíveis a patógenos e para as quais já há tratamento e/ou profilaxia disponíveis: o HPV, as hepatites B e C e a Helicobacter pylori.
HPV ou vírus do papiloma humano
Há mais de 200 tipos de HPV, mas nem todos aumentam o risco de cancro cervical, genital ou oral. A maioria das infeções resolve-se naturalmente, mas estima-se que cerca de 10% das mulheres com infeção cervical por HPV acabem por desenvolver uma infeção persistente com um dos tipos do vírus considerados de alto risco e que pode levar ao surgimento de lesões cancerígenas.
Em Portugal, a vacina contra o HPV está incluída no Programa Nacional de Vacinação para as raparigas de 10 anos e os rapazes nascidos a partir de 2009 também podem, desde outubro de 2020, receber a vacina gratuitamente. A Comissão de Vacinas da Sociedade de Infecciologia Pediátrica e da Sociedade Portuguesa de Pediatria recomenda ainda a vacinação contra o HPV a todos os adolescentes do sexo masculino que não estejam incluídos na vacinação gratuita.
Hepatite B e C
O fator de risco mais comum para o cancro do fígado é a infeção crónica com hepatite B e C. Sunyoung Lee, oncologista especializado em cancros do trato gastrointestinal, contou ao The New York Times que pergunta sempre aos seus pacientes quando é que lhes foi diagnosticada hepatite, porque a exposição prolongada ao vírus deixa os doentes num risco muito mais elevado de cancro hepático. Estes vírus começam por provocar inflamação nas células do fígado. A inflamação crónica leva à acumulação de tecido cicatricial no fígado – conhecida como cirrose – que é uma fator de risco considerável para o cancro. No caso da hepatite B, o vírus pode alterar diretamente células até aí saudáveis, tornando-as cancerígenas.
Ambas as infeções podem ser detetadas com uma simples análise ao sangue e, no caso da hepatite B há vacina. Para a C não há vacina, mas pode ser tratada com medicação antiviral.
A infeção crónica com hepatite B e C é ainda um fator de risco para o linfoma de non-Hodgkin.
Helicobacter pylori ou H. pylori
As infeções com esta bactéria são muito comuns. Tão comuns que, na realidade, cerca de metade da população mundial é portadora da H. pylori. No entanto, só 1 a 3% vão desenvolver cancro e os cientistas não percebem porquê nem por que mecanismos a bactéria pode provocar o aparecimento de uma doença oncológica.
A maioria dos infetados com a Helicobacter pylori, presente na saliva, na placa bacteriana dos dentes e nas fezes, é assintomática, mas a infeção pode acabar por produzir inflamação crónica no revestimento do estômago, o que, por sua vez, é um fator de risco para o cancro. A bactéria também leva proteínas tóxicas para as células, que ficam sujeitas a mutações. Os investigadores sabem também que a estirpe da bactéria e a genética de cada um pode desempenhar igualmente um papel neste processo.