Um novo estudo, desenvolvido por investigadores do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, EUA, concluiu que o consumo de canábis, sob qualquer forma, está associado a um risco significativamente mais elevado de enfarte e acidente vascular cerebral (AVC). Este risco foi observado mesmo em não fumadores de tabaco tradicional e sem qualquer problema cardíaco.
Em comunicado, Abra Jeffers, analista de dados e autora principal do estudo, referiu que a investigação demonstra que “fumar canábis apresenta riscos cardiovasculares significativos, tal como fumar tabaco”, e que estes resultados são “particularmente importantes” já que “o consumo de canábis está a aumentar e o consumo de tabaco convencional está a diminuir”.
“O fumo da canábis não é muito diferente do fumo do tabaco, excepto no que diz respeito à droga psicoactiva: THC (tetrahidrocanabinol) vs. nicotina”, acrescenta ainda. De acordo com a Associação Americana do Pulmão, este fumo contém várias das “mesmas toxinas, irritantes e carcinogéneos que o fumo do tabaco”.
Estudos anteriores já tinham encontrado uma ligação entre o consumo de canábis e o maior risco de ataque cardíaco. Por exemplo, um estudo publicado no Canadian Medical Association Journal em setembro de 2021 concluiu que adultos com menos de 45 anos que consumiram canábis nos 30 dias anteriores e, sobretudo, mais de quatro vezes (70,5% dos consumidores analisados), têm quase o dobro do risco de sofrer um ataque cardíaco do que os adultos que não usam esta droga.
Neste novo estudo, publicado na revista científica Journal of the American Heart Association, a equipa analisou dados de mais de 400 mil adultos com idade média de 45 anos (o mais novo tinha 18 anos e o mais velho 74). Segundo a equipa, 90% dos adultos não consumia canábis e, entre o grupo de consumidores, cerca de 74% referiu que privilegiava o consumo de tabaco; já 4% disse ser consumidor diário de canábis e, deste grupo, cerca de 29% não tinha consumido qualquer tabaco normal.
A análise dos resultados permitiu concluir que o risco de ataque cardíaco é tanto maior quanto mais regular for o consumo de canábis – o risco de AVC aumentou 42% e o risco de ataque cardíaco aumentou 25% se o consumo fosse diário. Contudo, o risco é acrescido para as duas condições mesmo que os consumidores não sejam diários, referem os investigadores.
Uma outra conclusão do estudo foi que os participantes mais jovens também são afetados: os adultos homens com menos de 55 anos e as mulheres com menos de 65 anos que consumiam canábis apresentavam um risco 36% mais elevado de doença cardíaca, ataque cardíaco e AVC, independentemente de serem consumidores de tabaco tradicional ou não.
Os dados dos voluntários foram recolhidos entre 2016 e 2020 através do Behavioral Risk Fator Surveillance System, um sistema de vigiância de saúde que funciona na forma de um inquérito telefónico nacional, realizado todos os anos e gerido pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).