Um novo estudo, realizado por investigadores da Universidade de Bergen, na Noruega, concluiu que mudar o estilo de vida, adotando e mantendo no tempo uma dieta mais saudável, pode acrescentar quase uma década à vida de adultos de meia-idade, aumentando a longevidade.
“É empolgante, mas não surpreendente, constatar os enormes benefícios para a saúde decorrentes de mudanças na alimentação”, diz Katherine Livingstone, uma das autoras do estudo.
Para a realização da investigação, a equipa avaliou dados relativos à saúde de mais de 460 mil britânicos, incluindo sobre os seus hábitos alimentares e sobre as mudanças ocorridas neles com o passar do tempo (17 anos), que foram retirados do UK biobank, um banco de dados biológicos do Reino Unido com mais de meio milhão de participantes.
Os participantes foram divididos em três grupos: um deles incluía os voluntários que não mantinham uma alimentação saudável, o outro os que tinham uma dieta equilibrada, seguindo o Guia Eatwell, e o terceiro teve em conta os participantes que mantinham um plano que a equipa denominou como “a dieta da longevidade”.
O Guia Eatwell, do Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS), mostra quanto devemos comer de cada grupo de alimentos com o objetivo de se alcançar uma dieta saudável e equilibrada.
A equipa ajustou, então, estas informações alimentares a outros fatores relacionados com estilo de vida, tais como o tabagismo, o álcool e o nível de atividade física. Analisando os dados, os investigadores concluíram que homens e mulheres de 40 anos que mudaram de uma dieta pouco saudável para uma alimentação mais saudável – mantendo-a no tempo – ganharam quase 9 anos de esperança de vida.
Maiores mudanças alimentares, maiores ganhos na longevidade
“Mostrámos que uma mudança alimentar consistente de padrões alimentares pouco saudáveis para as recomendações dietéticas do Guia Eatwell está associada a um ganho de 8,9 e 8,6 anos na esperança de vida para homens e mulheres de 40 anos, respetivamente”, escrevem os investigadores do estudo, publicado na revista Nature Food.
Já “para a mesma população, uma mudança alimentar sustentada de padrões alimentares pouco saudáveis para padrões alimentares associados à longevidade está associada a um ganho de 10,8 e 10,4 anos na esperança de vida em homens e mulheres, respetivamente”, referem ainda os investigadores.
A equipa concluiu que quanto maiores forem as mudanças feitas a nível dos padrões alimentares, maiores serão os ganhos esperados na esperança de vida. Ou seja, verificou os maiores ganhos na esperança de vida nos participantes que alteraram as suas dietas alimentares e passaram a consumir com menos regularidade bebidas açucaradas e carnes processadas e com mais frequência cereais integrais, nozes e frutas, por exemplo.
Já o grupo que seguia, no início do estudo, uma dieta considerada regular e passou a seguir hábitos alimentares mais saudáveis obteve menos ganhos no que diz respeito à esperança de vida, explica a equipa.
Os ganhos na esperança de vida também pareceram ser mais baixos quando a mudança na dieta era iniciada em idades mais avançadas, apesar de se verificarem bons resultados de qualquer forma: mesmo as pessoas de 70 anos conseguem aumentar a sua esperança de vida em 4 ou 5 anos se fizerem uma mudança consistente na sua dieta alimentar, defendem os investigadores.
“Este trabalho é importante porque demonstra que nunca é tarde demais para fazer pequenas e sustentadas mudanças para uma dieta mais saudável”, refere Livingstone.
Este não é o primeiro estudo que associa hábitos alimentares e outros relacionados com estilo de vida com o aumento da esperança de vida: a ciência tem confirmado que hábitos de vida saudáveis podem prolongar a longevidade e estudos recentes têm vindo a sugerir que seguir uma boa dieta alimentar, a prática de exercício físico e uma atitude mental positiva podem ter efeitos positivos na longevidade.
E a Escola Médica da Universidade de Harvard, por exemplo, definiu cinco áreas que têm um grande impacto no risco de morte prematura: hábitos alimentares saudáveis, prática de atividade física, ter um peso saudável, evitar fumar e consumir uma quantidade moderada de álcool. Quem adota estes hábitos (pelo menos antes dos 50 anos) pode esperar acrescentar entre 14 e 12 anos à sua esperança de vida (para as mulheres e homens, respetivamente).
Em Portugal, dados publicados em novembro deste ano pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que a esperança média de vida aos 65 anos está estimada em 19,75 anos, ou seja, a perspetiva de vida é de viver, em média, até aos 84,75 anos.