É já um dado científico que as mulheres morrem mais tarde do que os homens – a culpa é da genética e do envelhecimento do cromossoma Y. Enquanto as pessoas do sexo masculino chegam ao mundo com um cromossoma X e outro Y, as do sexo feminino nascem com dois cromossomas X. Segundo um estudo publicado, no verão passado, na revista Science, à medida que os homens envelhecem, perdem cromossomas Y nos glóbulos brancos, aumentando em 30% o risco de morte por doença cardiovascular, especialmente fibrose cardíaca e insuficiência cardíaca.
Mas afinal, qual é a importância da altura na longevidade? As pessoas mais baixas podem mesmo viver mais tempo do que pessoas mais altas?
Se no passado, ser baixo estava associado a morte prematura, atualmente a análise faz-se na direção contrária. As pessoas já foram muito mais baixas do que são atualmente, fator com relação direta a uma má nutrição durante o primeiro ano de vida. “As pessoas ao não se conseguirem desenvolver adequadamente também não conseguiam lutar contra doenças infecciosas. Historicamente, ao nível da população, associamos o tamanho baixo a um fraco desenvolvimento durante o primeiro ano de vida e a um elevado nível de mortalidade”, esclarece Jean-Marie Robine, demógrafo francês, especialista na relação entre saúde e longevidade, ao canal CNBC Make It.
Mas, nos dias que correm, para as pessoas mais baixas, “se tiverem o melhor possível, em termos de abundância e educação, vivem mais do que os mais altos”, acrescenta Robine.
Baseada em dados de milhões de mortes, foi encontrada uma correlação negativa entre maior altura e longevidade, de acordo com um estudo publicado, em 2003, na editora neerlandesa Elsevier, especializada em conteúdo científico, técnico e médico.
Os investigadores também descobriram que corpos menores e mais curtos têm taxas de mortalidade inferiores e menos doenças crónicas relacionadas com a dieta, especialmente depois da meia-idade.
Dos mais de 2 500 atletas finlandeses, todos homens, os esquiadores de cross-country eram cerca de 15 centímetros mais baixos e viviam quase sete anos a mais do que os jogadores de basquetebol. E ao comparar homens que serviram no exército italiano, um outro estudo descobriu que os soldados com menos de 1,50 metro viveram mais dois anos do que os seus camaradas mais altos.
A razão biológica para tal acontecer, como explica Jean-Marie Robine, é que, “quem é mais alto, precisa de mais replicações de células para preencher o seu corpo, e isso pode desgastá-lo mais rapidamente.”
As pesquisas têm demonstrado de forma clara que “a altura é importante”. “Quanto mais baixo se é, seja um cão ou um ser humano, significa que viverá mais, é inversamente proporcional”, corrobora David Sinclair, geneticista australiano da Escola de Medicina de Harvard, cofundador e consultor científico da Tally Health, empresa de biotecnologia.
“O que acontece com as mulheres é que a sua altura combina perfeitamente com o aumento da longevidade.”
A altura média das mulheres varia de acordo com a localização geográfica no planeta. Em média, as norte-americanas com mais de 20 anos têm 1,61 metro de altura, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças. Outras fontes, como Our World in Data, estimam que a altura média das mulheres, à escala global, é de 1,59 metro.
Segundo uma investigação, realizada por um consórcio liderado pelo Imperial College de Londres, no Reino Unido, envolvendo mais de 1 500 investigadores e médicos, na África subsariana, ao longo de três décadas, entre 1990 e 2020, as crianças que moravam em áreas rurais estabilizaram ou até ficaram mais baixas, em parte devido às crises nutricionais e de saúde que se seguiram à política de ajuste estrutural na década de 1980.
Outra tendência apontada pelo estudo que analisou os dados de altura e o índice de massa corporal de 71 milhões de crianças e adolescentes, entre os cinco e os 19 anos, em áreas urbanas e rurais de duas centenas de países, entre 1990 e 2020, é que ao melhorarem as condições de nutrição e alimentação nas crianças que moram em ambientes rurais, diminuem as vantagens de morar em cidades para o crescimento e desenvolvimento saudável dos mais novos.
“No século XX, em quase todos os países desenvolvidos, as crianças e adolescentes que viviam em meios urbanos eram mais altos comparativamente aos que viviam em áreas rurais. Este novo estudo determinou que, no século XXI, esta vantagem diminuiu na maior parte dos países como resultado das melhorias aceleradas na altura de crianças e adolescentes em áreas rurais”, revela uma das autoras do estudo, Cristina Padez, da Universidade de Coimbra, à Lusa. O estudo contou com a participação de vários investigadores portugueses do Instituto Politécnico de Lisboa, do Instituto Politécnico do Porto, da Universidade de Coimbra, da Universidade da Madeira, da Universidade do Minho, da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade do Porto.
A principal diferença entre a altura de homens e de mulheres deve-se às diferenças nos níveis da hormona do crescimento, muito superior nelas. “Sabe-se que os níveis da hormona do crescimento influenciam a longevidade”, garante David Sinclair.
“As mulheres são mais resistentes à mortalidade e à morte do que os homens porque simplesmente resistem mais às dificuldades”, acrescenta o demógrafo francês.
“Enquanto um homem se mantém saudável sem qualquer tipo de incapacidade, o seu nível de mortalidade é o mesmo de uma mulher, mas os homens sobrevivem mal se não estiverem de boa saúde. E as mulheres são muito mais resistentes à saúde ‘imperfeita’”, analisa Jean-Marie Robine. Resiliência e resistência no feminino até ao fim.