É inegável a importância que a atividade física desempenha nas nossas vidas. Manter um peso saudável, melhorar a circulação sanguínea, reduzir as dores crónicas ou combater a depressão são apenas alguns dos benefícios mais conhecidos.
Além disso, a prática de exercício físico regular pode também melhorar e fortalecer a nossa memória contra problemas futuros, como têm demonstrado vários estudos. Mas será que a intensidade com que fazemos esse exercício influencia o modo como reforçamos a memória e o tipo de memórias a reforçar? Parece que sim.
Um estudo da Universidade de Dartmouth, publicado na revista Nature Scientific Reports, analisou a atividade física e a memória de 113 participantes, dos 19 aos 68 anos, e descobriu, não só que as pessoas ativas tinham melhor memória do que as sedentárias, como também chegou à conclusão que, dependendo da intensidade do exercício, os participantes saiam-se melhor ou pior em testes de memória diferentes.
Para chegar a tais resultados, a equipa analisou os dados das pulseiras desportivas eletrónicas dos 113 participantes registados nos 365 dias que antecederam o início do estudo. Depois, foi pedido a estas 113 pessoas que realizassem uma série de testes de memória, desde recordar pormenores de uma história, a elementos espaciais, termos linguísticos e listas de palavras aleatórias.
Ao terem acesso a todos os dados das pulseiras, os investigadores conseguiram estabelecer uma relação entre os resultados dos testes de memória e a quantidade, intensidade e frequência de exercício que cada participante havia feito no ano anterior.
Por exemplo, os participantes que se envolveram em atividades leves a moderadas, como caminhadas regulares, tiveram melhor memória “episódica”. A memória episódica é aquela que nos permite recordar experiências pessoais. “Como aquela vez em que encontrámos um amigo num café ou esperamos pelo autocarro, no primeiro dia de escola”, explica Jeremy Manning, um dos autores do estudo ao The New York Times.
Já os participantes que se exercitavam regularmente com mais intensidade, correndo ou fazendo treinos HIIT, revelaram-se mais propensos a terem um melhor desempenho nos testes de memória espacial. A memória espacial é a capacidade de recordar relações entre objetos, por exemplo onde deixamos a carteira ou as chaves de casa.
A equipa terá agora de aprofundar o estudo a fim de tentar perceber as razões que motivam estes resultados. Ou seja, o que se passa dentro do nosso cérebro quando fazemos exercício que espoleta este tipo de reações a nível da memória.
Outras formas para melhorar a memória
Encontrar um assunto que nos cative
Memorizar é um processo que pode ser feito de maneiras muito diferentes, mas que estão “muito relacionadas com a afetividade de cada um de nós”, refere o neurocirurgião do Hospital de São João, Pedro Alberto Silva.
“Existem pessoas incapazes de decorar coisas quando não gostam do que estão a ler. A maior parte delas não tem um problema técnico com a memória, mas sim uma memória muito seletiva do ponto de vista emocional”. Ou seja, no cérebro destas pessoas, o processo necessário para passarem da memorização a curto prazo ao “banco de memórias” a longo prazo exige um grande estímulo emocional.
Beber café
Um estudo publicado na revista científica Molecular Psychiatry, em abril de 2021 e liderado por Nuno Sousa, presidente da Escola de Medicina da Universidade do Minho e investigador do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), demonstrou que as pessoas que consomem café registam melhor controlo motor, maiores níveis de atenção e que, por essa via, a cafeína pode trazer “benefícios para a aprendizagem e para a memória”.
Utilizando uma ressonância magnética funcional (fMRI, na sigla inglesa), uma tecnologia de neuro-imagem “muito inovadora que permite ver o cérebro a funcionar e todo ao mesmo tempo”, o investigador comparou a estrutura e conectividade do cérebro de um grupo de pessoas que bebia café diariamente com as de um grupo de pessoas que não bebia café e descobriu que “duas regiões e duas redes de conetividade funcional do cérebro das pessoas que tomavam habitualmente café evidenciavam padrões de ligação diferentes, por causa dessa toma”.
Em relação a quem não bebia café, estas pessoas apresentavam alterações a nível das redes relacionadas com a capacidade de prestar atenção a estímulos e estar alerta, e das redes relacionadas com o controlo motor.
Para que os efeitos sejam verificados, Nuno Sousa assegura que basta um café diariamente, mas revela que nas pessoas que tomavam mais cafés por dia “as diferenças acentuavam-se, o que demonstra que a relação dessas diferenças com a ingestão de café é forte”.