Como perceber que se tem um problema de ansiedade?
É normal sentirmos ansiedade no nosso dia a dia. Já todos nós sentimos ansiedade, sabemos qual a sensação, principalmente nos momentos em que temos de pôr as nossas capacidades à prova, quando somos desafiados, testados, ameaçados. Já todos nós sentimos o coração um pouco mais acelerado, aquele “friozinho na barriga”, às vezes até aquela espécie de tontura. No entanto, esta ansiedade é considerada normativa quando a canalizamos para sermos produtivos, mais focados, assertivos e eficazes. Já a ansiedade patológica é quando acontece o contrário, ou seja, quando ficamos bloqueados, não nos reconhecemos no nosso próprio comportamento, estamos incongruentes comparativamente com o nosso desempenho no passado. É desta forma que conseguimos diferenciar a ansiedade boa da má. Na má ganhamos até medo das sensações físicas que esta ansiedade provoca, medo de que estas sensações nos dominem… Por vezes até o medo de morrer.
Quais os primeiros sinais?
Um dos sinais mais preocupantes é quando a ansiedade começa a interferir no nosso dia a dia, desenvolvendo-se até um comportamento de evitamento face a coisas que se fazia com regularidade e que começam a ser paulatinamente subtraídas da rotina pelo próprio paciente. Trata-se de uma sensação constante de vulnerabilidade e insegurança que retira por completo a possibilidade de se viver de forma descontraída e espontânea. Posso sem dúvida considerar que o primeiro sinal de alerta que nos chega em consulta é o facto de o paciente se sentir incongruente, ou seja, o paciente nota que sente as coisas do seu dia a dia de uma forma muito diferente do seu habitual. Isto é sinal de que a ansiedade deixou de ser funcional, passou a ser patológica, o que acaba por toldar completamente a visão que temos de tudo o que nos rodeia. Importa sublinhar que numa ansiedade patológica o medo está sempre à espreita. Trata-se de um mindset focado na ameaça constante de que algo de mau vai acontecer. No fundo, estamos a falar de medos exagerados, fruto de uma perceção distorcida daquela que é efetivamente a realidade.
Como se previne e se trata a ansiedade?
É possível prevenirmos a ansiedade quando percebemos o que está a provocá-la. Quais os estímulos aos quais estamos a reagir no nosso dia a dia. É fundamental percebermos o que é que estamos a temer que aconteça ou de que formas estamos a representar mentalmente os nossos medos. Porque efetivamente sentimos aquilo em que pensamos. Por isso mesmo, a solução passa por conhecermos a nossa forma de pensar. Não importa só tomar medicação para não sentirmos as consequências físicas da ansiedade, importa, sim, perceber de onde é que essas sensações vêm, qual a fonte do problema, qual o erro de pensamento que estamos a cometer. O processo psicoterapêutico é fundamental para que haja este autoconhecimento acerca das nossas emoções e do nosso padrão, que nos faz reagir comportamentalmente sempre da mesma forma. Este é o primeiro passo para a prevenção, para a melhoria, para a mudança.
A solução passa por conhecermos a nossa forma de pensar
Catarina Graça
Psicóloga e psicoterapeuta na Clínica da Mente
Que situações são mais causadoras de ansiedade?
A perceção que temos da nossa vida, dos eventos que vivemos e integramos no nosso leque de experiências desde que nascemos até à nossa atualidade é uma das principais fontes de ansiedade. A causa está quase sempre associada a experiências vividas no passado de forma traumática e que terão condicionado o paciente a reagir sempre de forma ansiogénica, por vezes até sob a forma de pânico, a situações semelhantes no seu presente. Assim sendo, as causas específicas podem ser variadas, desde o medo de exposição face aos outros, medo de morrer de forma súbita, medo de falhar, medo da rejeição, etc. Torna-se por isso fundamental identificar todos os estímulos destabilizadores para que se consiga equilibrar a resposta emocional e psicológica do paciente.
Os vários tipos
A Associação Portuguesa de Perturbações de Ansiedade explica que há diferentes formas de as pessoas se sentirem ansiosas e quais os sintomas e sinais de aviso associados a cada uma
Perturbação de ansiedade generalizada
É caracterizada por uma ansiedade persistente e excessiva relativamente a vários acontecimentos ou atividades do dia a dia.
Sintomas: Agitação, fadiga, tensão muscular, irritabilidade, dificuldade de concentração, perturbação do sono.
Perturbação de pânico
Surge como um ataque de pânico, quando se sente um nível extremo de ansiedade, inesperadamente. A sensação imediata é de que se está a ter um ataque cardíaco.
Sintomas: Dificuldade respiratória ou sensação de estar a sufocar, vertigens, instabilidade ou desmaio, palpitações ou ritmo cardíaco acelerado, tremores, sudação, falta de ar, formigueiros, calafrios, náuseas, dor de estômago ou diarreia, dor ou incómodo no peito, sensação de irrealidade ou separação do meio envolvente, medo de perder o controlo, medo de morrer.
Ansiedade social
Caracteriza-se pelo medo persistente de situações sociais e de desempenho. As crenças associadas a esta perturbação caracterizam-se pelo medo irracional que o indivíduo tem de se expor, evitando assim situações em que esteja sujeito ao escrutínio ou à avaliação dos outros.
Sinais de alerta: Nervosismo diário, medo e ansiedade, que afetam diretamente a qualidade de vida da pessoa, comprometendo a sua rotina diária, o desempenho no trabalho, na escola e noutras atividades.
Fobia, medo persistente irracional
Consiste num medo persistente, irracional, involuntário e exagerado perante uma situação ou um objeto específico. O medo é reconhecido pelo indivíduo e causa um grande impacto na vida de quem sofre, podendo levar ao evitamento da situação temida. A pessoa quando chega ao estado de fobia/pânico, sente uma ansiedade excessiva em relação ao perigo real que uma determinada experiência ou exposição apresenta. Há três grupos de perturbações fóbicas: fobias simples, fobias específicas, fobia social e agorafobia.
Agorafobia
Consiste no medo fóbico de espaços abertos e/ou fechados. A pessoa sente medo quando se encontra em situações percecionadas como inseguras, das quais sente dificuldade em sair. Esta perturbação pode incluir outros medos, como o de utilizar transportes públicos, o de estar sozinho em casa, e/ou o de estar longe de casa.
Sinais de alerta: Ansiedade quando permanece numa fila ou quando está no meio de uma multidão.
Ansiedade de separação
Consiste no medo exagerado em relação à separação de figuras de apego. Trata-se de uma ansiedade excessiva, para a idade de desenvolvimento da criança. Quem sofre desta perturbação sente um medo persistente quando é afastado(a) da mãe, do pai, ou de outra pessoa significativa. Muito embora esta perturbação seja mais frequente na infância e na adolescência, também pode ser expressa durante a idade adulta.
Sinais de alerta: Os indivíduos são relutantes ou recusam-se a sair de casa sozinhos devido ao medo de separação.
Mutismo seletivo
Caracteriza-se pela ausência da fala em um ou mais contextos. O mutismo seletivo consiste na incapacidade persistente de falar em situações sociais específicas, como, por exemplo, na escola. Esta alteração interfere no rendimento escolar, laboral ou na interação social com os pares. A duração da perturbação é de, pelo menos, um mês (não limitada ao primeiro mês de escola). Este bloqueio de falar não é devido à falta de conhecimentos ou de familiaridade com a língua requerida na situação social.
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