No passado dia 25 de fevereiro foi aprovada pelo departamento governamental canadiano responsável pelas políticas nacionais de saúde a primeira vacina contra a Covid-19 desenvolvida à base de plantas, a Covifenz.
A vacina desenvolvida pela companhia farmacêutica Medicago a partir das folhas de uma planta da família do tabaco, está disponível para pessoas entre os 18 e os 64 anos e implicará a toma de duas doses. Os dados existentes para a aprovação da vacina em adultos a partir dos 65 é, de acordo com as revisões do Health Canada, mínima, nomeadamente porque “houve um contributo limitado de participantes com mais de 65 anos de idade nos ensaios clínicos”, explicou, em comunicado, o departamento canadiano, assegurando, no entanto, que a Medicago está a “recolher dados em indivíduos mais velhos para apoiar a autorização regulatória para essa faixa etária”.
Com base em Quebec, uma cidade canadiana, a Medicago já concordou em fornecer, segundo a Associated Press (AP), 76 milhões de doses ao governo canadiano. “De momento estamos a aumentar a capacidade para cumprir o contrato de fornecimento”, disse Marc-André D’Aoust, vice-presidente executivo de inovação, desenvolvimento e assuntos médicos da Medicago, à Reuters.
A Medicago usa a referida planta da família do tabaco para fabricar VLPs, partículas biodegradáveis semelhantes a vírus que imitam a proteína spike do SARS-CoV-2, mas não causam infeção ou doença. Depois de retiradas e purificadas as partículas, estas são combinadas com um adjuvante de reforço imunológico, desenvolvido pela empresa farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK), para fazer a vacina.
Os VLP podem ser armazenados a temperaturas de dois a oito graus Celsius, uma vantagem face às vacinas de mRNA que têm de ser armazenadas em temperaturas muito mais reduzidas, entre -15 e -25 graus Celsius para a Moderna e -60 e -90 graus Celsius para a Pfizer.
A eficácia da vacina
Em dezembro de 2021, níveis muito altos de eficácia foram registados para a Covifenz, considerada pela Medicago, uma vacina revolucionária no sentido de ser a primeira com as suas características a nível mundial.
De acordo com a AP, o estudo realizado em 24 mil adultos provenientes de seis países diferentes, mostrou ser aproximadamente 71% eficaz contra todas as variantes da Covid-19, menos a Omicron que não era significativa quando as experiências estavam a ser realizadas. Os níveis mais elevados de eficácia registaram-se na variante Delta, com 75% de eficácia.
“Vamos fornecer dados em breve sobre a eficácia da vacina especificamente contra à Omicron e, paralelamente, também vamos recolher dados de imunogenicidade, a resposta dos anticorpos da nossa vacina contra a Omicron”, disse D’Aoust ao The Toronto Star no tópico da ausência de dados sobre a eficácia da vacina contra a Omicron.
Ainda nesse tópico, a Health Canada acrescentou, em comunicado, que embora sejam necessários dados adicionais, “dados preliminares e exploratórios mostram que a Covifenz produz anticorpos neutralizantes contra a variante Omicron”.
“Nos próximos meses, saberemos o quão bem funcionou a nossa vacina contra a Omicron”, disse o médico da empresa, Dr. Brian Ward, à CBC News.
A Health Canada também colocou alguns termos e condições à farmacêutica, nomeadamente o contínuo fornecimento de informação sobre a segurança e eficácia da vacina, de modo a poder acompanhar, assim, os desenvolvimentos da pesquisa.
A vacina inclui, segundo os dados partilhados um conjunto de efeitos colaterais leves temporários, nomeadamente sintomas locais como vermelhidão, dor e inchaço no braço e outros sintomas mais gerais como arrepios, fadiga, dores articulares e de cabeça. Reações mais graves como a anafilaxia, uma reação alérgica generalizada, de instalação rápida e que pode ser mortal, foram consideradas raras.
A aprovação e as expectativas para o futuro
Num comunicado lançado a 24 de fevereiro, o presidente e CEO da Medicago, Takashi Nagao agradeceu ao governo canadiano pelo “apoio no desenvolvimento desta nova vacina”, assegurando estarem já a “fabricar doses para começar a cumprir o seu pedido”. Para Nagao a aprovação da Covifenz é “um marco significativo para o Canadá na luta contra a pandemia”, algo que Roger Connor, presidente da GSK Vaccines, também reforçou.
Segundo o testemunho de D’Aoust à Reuters já existem planos para que a vacina seja aprovada no Japão, EUA, Europa e Ásia.
A vacina surge numa altura em que a maioria dos canadienses já estão vacinados com duas ou mais doses o que, de acordo com as declarações de Isaac Bogoch, especialista em doenças infeciosas, à CBC News, não anula o facto de a aprovação da vacina ser uma boa notícia.
“Se isto vai ter um grande impacto sobre nós aqui no Canadá? Provavelmente não. Mas pode haver alguns indivíduos que optam por se vacinar com um produto sem mRNA”, disse ele, referindo-se às injeções oferecidas pela Pfizer-BioNTech e Moderna.
