Adultos com menos de 45 anos que consumiram canábis nos últimos 30 dias e, sobretudo, mais de quatro vezes (70,5% dos consumidores analisados), têm quase o dobro do risco de sofrer um ataque cardíaco do que os adultos que não usam esta droga, de acordo com um estudo publicado no Canadian Medical Association Journal.
Independentemente da forma como a canábis é consumida, incluindo fumo, vaporização e outros métodos, como comestíveis, as consequências são semelhantes, ainda que fumar tenha sido o método com maior destaque nas estatísticas da investigação.
Mesmo com um número de incidentes por ataque cardíaco baixo entre os participantes do estudo, os investigadores relatam que os resultados se alinham com outros estudos que demonstram uma ligação entre o uso frequente de canábis e ataques cardíacos em ambientes hospitalares.
A investigação envolveu a análise de dados sobre a saúde de 33 173 adultos, com idades entre os 18 e 44 anos, que estavam inseridos em investigações realizadas pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA em 2017 e 2018. Dos 17% dos adultos que relataram usar canábis no mês anterior, 1,3% (61 de 4 610) sofreu depois um ataque cardíaco, enquanto apenas 0,8% (240 de 28 563) dos não consumidores relatou o mesmo.
Os consumidores de canábis eram sobretudo homens (62,9%), solteiros, fumadores de cigarros (31,6%) ou cigarros eletrónicos (18,1%) e consumidores de álcool, fatores que também podem ter contribuído para aumentar o risco de ataque cardíaco.
“Há evidências crescentes de que o consumo de canábis pode ser prejudicial, tanto a curto como a longo prazo”, disse Karim Ladha, autor do estudo e cientista na Unity Health Toronto, Canadá, num comunicado. “O uso de canábis está a aumentar entre os jovens adultos na América do Norte e não conhecemos totalmente os seus efeitos na saúde cardiovascular”, acrescentou.
Monty Ghosh, médico e professor na Universidade de Alberta, Canadá, explicou ao jornal Healthline que “a canábis pode induzir enfartes do miocárdio por meio de vários mecanismos diferentes, mas os dados são frequentemente complicados e difíceis de determinar, já que muitos indivíduos fumam canábis e cigarros, que também é um fator de risco para doenças cardíacas e ataques cardíacos”.
Este estudo em concreto não investigou como a canábis afeta a saúde cardíaca, mas através de estudos anteriores foi possível perceber que a droga pode afetar a frequência cardíaca dos consumidores. Quando esta frequência se torna irregular, pode aumentar a quantidade de oxigénio que o coração precisa ou limitar a quantidade de oxigénio entregue ao coração, explicou a autora da investigação.
Após uma exposição intensiva à cannabis, os sintomas mais frequentemente descritos foram “taquicardia dependendo da dose e, em alguns casos, diminuição da contratilidade ventricular, palpitações, fibrilação atrial e arritmia”, pode ler-se no estudo. Também os níveis de alcatrão inalados são três vezes superiores aos valores de um cigarro comum.
“O THC aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial e ambas podem ser bastante elevadas, o que pode provocar ataque cardíaco, especialmente frequente após a primeira hora de consumo”, acrescentou Monty Ghosh.
Equilíbrio e aconselhamento médico
Segundo o Presidente, Robert Page, da Associação Americana do Coração, a canábis vendida atualmente é muito mais potente do que a que se vendia nos últimos 50 anos. Recentemente, a Associação até publicou numa recomendação que as pessoas não fumem ou vaporizem qualquer produto que contenha canábis, por causa do potencial dano à saúde cardiovascular e pela possibilidade de ter interações negativas com alguns medicamentos. Como a maioria dos medicamentos, a canábis é metabolizada pelo fígado, o que significa que tem potencial para interagir com muitos medicamentos cardiovasculares, como por exemplo anticoagulantes.
“O uso de canábis deve ser considerado na avaliação de risco para a saúde cardiovascular”, disse David Mazer, também cientista clínico da Unity Health e co-autor do estudo, num comunicado. “Ao tomar decisões sobre o consumo de cannabis, os doentes e médicos devem considerar os benefícios e riscos associados aos fatores de risco para a saúde”.