As empresas farmacêuticas Pfizer e Moderna têm estado a fazer testes nas faixas etárias abaixo dos 12 anos para melhor compreender de que forma e se vão ser vacinadas.“Temos que nos certificar de que estamos a fazer o melhor e mais seguro para as crianças”, explica Chip Walter, pediatra da Duke University, EUA, e um dos investigadores da Pfizer, citado pela CNN.
Uma questão de tempo
No caso da vacina desta farmacêutica, em parceira com a BioNtech, os testes estão a ser realizados em mais de 4600 crianças em três grupos diferentes: 5 a 11 anos; 2 a 5 anos; bebés de 6 meses a 2 anos de idade. No grupo etário dos 5 aos 11 anos, a empresa referiu que os resultados podem chegar em setembro e, dependendo das descobertas, pode ser pedida autorização à Food and Drug Administration (FDA, que regula os medicamentos nos EUA) para autorizar o uso da vacina no mesmo mês. No que diz respeito às crianças de 2 a 5 anos, a empresa estima que só devem obter dados em outubro ou novembro e, só depois disso é que avança com o pedido de autorização.
No entanto, até a FDA autorizar o uso de emergência desta vacina em crianças pode demorar semanas, o que significa que, provavelmente, não estará disponível até o final do outono ou mesmo no início do próximo ano.
De acordo com Peter Hotez, codiretor do Centro de Desenvolvimento de Vacinas do Hospital Infantil do Texas, mesmo que as vacinas ficassem prontas e aprovadas no outono, seria uma surpresa “se elas pudessem ser usadas tão rapidamente”.
Especificidades do organismo infantil
Embora muitas crianças tenham uma fisionomia idêntica a de um adulto e a questão da vacinação nessas crianças seja colocada em causa por alguns pais, a verdade é que “não tem nada a ver com tamanho. Tem tudo a ver com a maturidade do sistema imunológico, e isso não se correlaciona com o tamanho da criança”, explica William Schaffner, professor da Divisão de Doenças Infecciosas da Universidade de Vanderbilt e consultor de vacinas do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
Em crianças até aos 12 anos estão incluídas idades diferentes com organismos diferentes que podem precisar de dosagens diferentes. “O que se pode ver numa criança de seis meses de idade pode ser diferente do que se vê numa criança de 3 anos versus uma criança de 8 anos de idade, ou versus um adolescente de 13 ou 14 anos. Então, é preciso avaliar cada idade separadamente e avaliar as vacinas”, referiu o pediatra da Duke University e investigador dos testes da Pfizer.
Além da importância de se encontrar a dose certa para as crianças, Buddy Creech, pediatra especialista em doenças infecciosas da Universidade de Vanderbilt e um dos principais investigadores da vacina pediátrica para Covid-19 da Moderna, também salientou que a vacina pode provocar efeitos colaterais como febre, dores, cansaço, e, ao contrário do que acontece numa criança, um adulto sabe com lidar com isso. “Se uma criança de dois anos levar uma vacina na coxa, tem dores nas pernas tão fortes que não consegue gatinhar ou andar, e passamos a ter um problema diferente, e isso produz muito mais ansiedade”, explicou Schaffner.
Risco para crianças
Apesar de o risco de doença grave e morte em crianças ser ainda menor do que se pensava, a Covid-19 não é uma doença de evolução necessariamente benigna nos mais novos, estando ainda os investigadores a tentar perceber a dimensão do risco da síndrome inflamatória multissistémica nas crianças e também da Covid prolongada. Além claro, do risco de transmissão que uma criança infetada representa.
Em Portugal, a Madeira já começou a vacinar crianças maiores de 12 anos para que, em setembro, os alunos do 3.º ciclo estejam imunizados, mas no continente ainda não há previsão.