Trump sabe uma coisa: são os americanos que vão pagar as tarifas aplicadas aos produtos chineses, mexicanos e canadianos, e o mesmo acontecerá com a Europa quando chegar a sua vez. Trata-se de uma total inversão de valores. À China, pouco interessam as tarifas. Quem tem de as pagar são os importadores americanos.
O grande problema dos Estados Unidos reside na sua dependência dos produtos importados. Não importa quem exporta, mas sim quem paga e como isso se reflete no preço para o consumidor.
É fundamental ter uma noção dos números associados às importações da China: por dia, 1,64 biliões (métrica americana) de produtos (unidades de produtos) entram nos Estados Unidos. Não é possível enumerar cada um deles, mas vão desde ingredientes farmacológicos a produtos eletrónicos, vestuário, maquinaria, alimentos, painéis solares, roupas de luxo e até componentes para a NASA.
Interferir nesta cadeia diária significa travar os EUA a todos os níveis. Se a isto se somar o que vem do Canadá e do México — particularmente deste último —, então Trump ficará isolado no seu continente, sem capacidade industrial ou agrícola para competir com um gigante como a China ou com fornecedores mistos como o México e o Canadá.
As tarifas pressionam os chineses, obrigando-os a reduzir os preços de fabrico? Pouco ou nada. Os americanos, pelo contrário, sentirão os efeitos mais depressa, ficando irritados e revoltados. Uma América fechada, isolada e sozinha é um ideal ultrapassado e impossível de concretizar. Se a China parasse de produzir durante um mês, os Estados Unidos deixariam de funcionar a todos os níveis — até nos mais elementares. Trump vive noutro mundo.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.