Das 3105 mortes por todas as causas entre os cerca de 12 milhões de menores em Inglatera, entre março de 2020 e fevereiro de 2021, só 25 são atribuíveis à Covid-19, uma taxa de 2 por cada milhão. Dessas, cerca de metade foram de crianças/jovens com problemas de saúde anteriores graves a implicarem assistência respiratória ou alimentação por sonda.
Numa série de estudos publicada no medRxiv e, portanto, ainda a aguardar revisão pelos pares, uma equipa de investigadores mergulhou numa pilha de dados sobre as admissões hospitalares e as mortes relacionadas com a Covid e concluiu que o o risco de morrer ou precisar de cuidados intensivos até aos 18 anos é menor do que se acreditava até aqui.
Nenhum dos estudos avaliou as taxas de doença menos grave nem os sintomas de Covid prolongada que podem manter-se durante meses depois da cura da infeção.
Uma das investigações implicou a análise de dados de 57 estudos de 19 países, em busca da informação disponível sobre a Covid em crianças e jovens e, daí, extraiu os fatores de risco para doença grave e morte – obesidade ou doenças cardíacas e neurológicas, embora o aumento do risco nestes casos tenha sido “muito pequeno”, segundo a autora do estudo, a pediatra Rachel Harwood, do Alder Hey Children’s Hospital, em Liverpool.
Outras duas análises permitiram aos investigadores concluir que de 6.338 admissões hospitalares devido à Covid-19, 259 crianças jovens precisaram de internamento em unidades de cuidados intensivos pediátricos. A prevalência de crianças negras a precisar de cuidados intensivos, quer diretamente pela Covid quer pela síndrome inflamatória multissistémica associada à infeção com o SARS-CoV-2 em crianças, é maior. Mas, no geral, a necessidade deste tipo de cuidados é classificada como “incrivelmente rara” pelo autor destes estudos, Joseph Ward, do Instituto de Saúde Infantil da Universidade College London.
“Há um sentimento geral entre os pediatras de que, provavelmente, demasiadas crianças foram blindadas durante a primeira vaga da pandemia”, resumiu, aos jornalistas, Russell Viner, que se dedica ao estudo da saúde adolescente na mesma instituição. A especialista em doenças infecciosas Elizabeth Whittaker corrobora: “Os escudos não foram perfeitos e, provavelmente, causaram mais stress e ansiedade às famílias do que benefícios.”