A carência de vitamina D pode levar ao enfraquecimento muscular, com especial impacto na população mais velha, concluiu um estudo publicado na semana passada no Journal of Endocrinology. A investigação foi realizada pelo Instituto de Investigação Médica Garvan, na Austrália, em colaboração com outros institutos. As experiências realizadas em ratos permitiram perceber que os que sofriam de falta de vitamina D tinham um decréscimo de quase 40% da função mitocondrial nos músculos.
A vitamina D, também conhecida como “a vitamina do sol”, é produzida na pele através dos raios ultravioleta e é, depois, sintetizada para chegar às várias partes do corpo. Existem, no entanto, outras formas para além do sol de adquirir esta vitamina. Na nossa dieta, esta encontra-se presente em alimentos como os peixes gordos (por exemplo, o salmão),na clara do ovo, queijo e cogumelos. Já a função mitocondrial é a energia produzida pelas nossas mitocôndrias, pequenas estruturas existentes dentro das nossas células, que são responsáveis por gerar energia para os nossos músculos. O declínio desta função afeta não só a capacidade de gerar energia, mas, também, o desempenho e a recuperação muscular. O estudo sugere que ao prevenir-se a carência de vitamina D na população mais idosa pode ajudar a manter a força e a função muscular, assim como diminuir o impacto do envelhecimento.
Para chegar a estas conclusões, os cientistas alteraram a dieta alimentar de jovens ratos. Ao longo de três meses deram a um conjunto de ratos uma dieta com um nível normal de vitamina D, e a outro uma dieta sem esta vitamina, para verificar qual o impacto que esta teria. Para isso, foram testandos mensalmente o sangue e amostras de tecidos dos ratos para ver os níveis tanto da vitamina como da função mitocondrial . Passados esses três meses, os investigadores verificaram que a função mitocondrial dos ratos que não recebiam vitamina D tinha sido reduzida até 37 por cento.
“Os nossos resultados mostram que há uma clara relação entre a carência de vitamina D e a capacidade de oxidação dos músculos esqueléticos [músculos responsáveis pela postura e movimento]. Estes sugerem que a carência de vitamina D diminui a função mitocondrial. Estamos bastante interessados em examinar se esta redução na função mitocondrial está relacionada com o envelhecimento da massa e do funcionamento dos músculos esqueléticos”, diz Andrew Philp, cientista responsável pelo estudo, aos órgãos de comunicação internacionais.
Este é apenas o estudo inicial realizado pelos cientistas – o objetivo é, no futuro, descobrir exatamente como é que a deficiência de vitamina D influencia a função e o controlo mitocondrial e a função dos músculos esqueléticos nos ratos e, depois, claro, nos humanos.
Em Portugal, um estudo publicado em 2020 mostrou que dois em cada três portugueses têm falta de vitamina D, sendo que mesmo nos meses de verão pouco mais de metade (56,8%) da população adulta consegue atingir valores normais da vitamina. Muitos têm, também, sido os estudos que tentam ligar o uso de vitamina D ao combate e proteção contra a covid-19, não existindo um consenso científico sobre o tema.