A praia de Peniche foi o local escolhido pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia para comemorar o Dia Mundial do Coração, a 29 de setembro. Com uma mensagem virada para o lado positivo, a “boa onda cardiovascular” consegue-se com hábitos de vida saudáveis e “simples”, diz Victor Gil, cardiologista e presidente da instituição.
Porque escolheram a praia e o surf para comemorar esta data que tem como mote “Dia da boa onda”?
Isto vem na sequência de um conjunto de ações que temos vindo a fazer nos últimos anos. Uma das campanhas grandes que fizemos foi a de alerta sobre a insuficiência cardíaca, para a qual mandámos fazer um coração gigante que andou numa camioneta a percorrer o País. Mas esse coração tinha um aspeto doente, olhava-se para aquilo e ficávamos admirados, embora fosse mesmo essa a ideia. Este anos quisemos uma perspetiva diferente.
Mais otimista?
Esse coração ficou guardado e, no passado, um grupo de crianças da Associação Coragem (crianças que foram operadas ao coração) sob a orientação de uma artista plástica pintou-o e passou, depois, a ser o símbolo de um outro programa que lançámos nesse ano e a que chamámos “Coração de Esperança”. Ou seja, passámos dos alertas sobre a doença que é terrível para uma outra fase, de esperança.
E este ano?
Agora quisemos ir ainda mais a montante, ou jusante, como se quiser. Isto é, a pessoa está doente, a doença tem de ser identificada e tratada, mas esse tratamento permite, hoje em dia, dar esperança às pessoas. Portanto, o desafio este ano é: voltarmos ao que passamos a vida a discutir, mas que nos esquecemos tão facilmente, que é adotar hábitos de vida saudáveis para entrarmos numa boa onda cardiovascular.
Mudaram o discurso?
A mensagem para prevenir a doença cardiovascular é, geralmente, feita pela negativa. ‘Não faça isto’, ‘Não faça aquilo’. O que queremos dizer é que, se for cumprido um conjunto de regras simples, as coisas correm bem.
Que regras?
Fazer exercício, ter uma alimentação saudável, não aumentar de peso e, caso tenha diabetes ou colesterol alto, fazer o controlo regular. Há um estudo recente, feito nos EUA, que mostra que se as pessoas cumprirem estas regras, começando-as na juventude, têm adicionalmente mais 14 anos de esperança de vida no caso das mulheres e 12 no dos homens do que quem não tem um estilo de vida saudável. A boa onda cardiovascular não é uma fantasia, não é retórica, é, isso sim, consubstanciada em números.
Que atividade física devemos fazer para prevenir as doenças do coração?
Qualquer uma é boa e qualquer tipo de movimento é bom em comparação com a inatividade. É simples: peguem nuns sapatinhos de ginástica e andem. O ideal seria andar uma hora por dia, mas se andarem 30 minutos três vezes por semana já não é mau; aliás, é o mínimo dos mínimos. Andar, mas a ‘puxar’ o passo. Idealmente devia ser uma hora para cinco quilómetros, que é uma velocidade um pouco forte. Claro que nem todos conseguem, mas façam o que conseguirem. O mínimo é andar. Fazer natação, andar de bicicleta, ter aulas no ginásio ou personal trainer? Ótimo, perfeito. O desafio é pôr as pessoas a combater as doenças cardiovasculares por si próprias.
Quais são os três erros que devemos evitar?
Fumar. Não fume ou deixe de fumar. A segunda é a alimentação adequada, e isso reconheço que é difícil, quando muitas vezes tem de se comer fora: aconselho o hábito da marmita, levar a refeição saudável de casa. Por fim, é errado pensar que é tarde para começar a fazer exercício. Nunca é tarde, há sempre um tipo de atividade para qualquer pessoa. Só é tarde quando se chega a um ponto em que há problemas nas articulações e já não se consegue.