O caso é descrito num estudo publicado na revista científica Natures Communication esta terça-feira.
Até ao momento não havia dados que comprovassem a possibilidade de um feto ser infetado com o vírus, sendo que não era possível descartar o cenário dos bebés terem sido infetados durante ou logo após o parto.
Este estudo comprava que a transmissão de SARS-CoV-2 pela placenta é afinal, possível.
Uma grávida com mais de 35 semanas de gestação foi admitida no hospital Antoine Béclère, em Paris, no dia 24 de março com 38.6 °C de febre, sendo que relatou ter tosse forte e expectoração desde dois dias antes da hospitalização.
A gravidez havia decorrido sem preocupações sendo que as ecografias não tinham revelado qualquer problema. Foi quando a mãe foi diagnosticada com Covid-19, poucos dias após a sua chegada, que surgiram complicações.
Os médicos decidiram realizar de imediato uma cesariana e, logo após o parto, o bebé foi posto em isolamento numa unidade de cuidados intensivos neonatais. Antes da rutura das membranas (a bolsa de líquido amniótico), e portanto antes de qualquer possível contaminação exterior, foi recolhida uma amostra deste líquido, que viria a testar positivo para ambos os genes E e S do SARS-CoV-2.
Análises ao sangue e a líquidos extraídos dos pulmões do recém-nascido revelaram infeções derivadas da Covid-19. Foi depois confirmado que o vírus se havia espalhado do sangue da mãe para a placenta, onde se replicou e causou infeções, até chegar ao feto.
Ao início, o bebé parecia estar a reagir bem, mas no terceiro dia de vida passou a não aceitar comida; começou a ter espamos musculares e uma ressonância magnética revelou efeitos secundários de uma lesão neurológica.
Na altura do nascimento, não havia protocolos que abordassem o tratamento de bebés com Covid-19. Os médicos consideraram administrar o antiviral remdesivir, mas o bebé recuperou sem qualquer tipo medicação especial.
Seis dias após o parto, a mãe pode regressar a casa e o bebé teve alta 18 dias após o seu nascimento.
Daniele De Luca, diretor médico da divisão neonatal e pediátrica do Antoine Béclère Hospital e um dos autores do estudo, explicou ao The Guardian que a razão de não ter sido confirmado nenhum caso de infeção durante a gravidez, até agora, parte do facto de serem necessárias muitas amostras para se chegar a alguma conclusão. “É necessário sangue da mãe, do recém-nascido, do cordão umbilical, da placenta, do líquido amniótico e é extremamente difícil conseguir tudo isto durante uma pandemia”.