É o que indica o mais recente estudo conduzido pelo Instituto Pasteur, em Paris: apesar de partir do princípio que 2,8 milhões de pessoas em França foram infetadas com o SARS CoV-2 , o que é um número superior à contagem oficial de casos, isto equivaleria a 4,4 % da população, longe do necessário para conferir a imunidade de grupo.
“Em alguns locais do país”, seguem os investigadores, no artigo publicado na revista Science, “a taxa de infeção está mais alta, nos 9 e 10 por cento. Mas, se quisermos controlar a pandemia servindo-nos da imunidade de grupo, seria preciso que esse valor alcançasse os 65 por cento.”
Desde o início da pandemia, que a questão da imunidade de grupo tem estado na frente das preocupações das autoridades de saúde. Como quem diz, aquela situação em que um número suficiente de pessoas numa população ganha imunidade a uma infeção para impedir, efetivamente, a propagação da doença. Embora ainda não se saiba sequer, como alega a Organização Mundial de Saúde, se quem foi infetado fica, depois, protegido contra uma reinfeção.
Atrasados para segundo surto
Para tentar compreender melhor o fenómeno, o Instituto Pasteur decidiu reavaliar a taxa de infeção em França, quando o país anunciou que ia entrar na fase de desconfinamento, a 11 de maio. É que, depois de quase dois meses em casa, a taxa de reprodução do vírus baixara consideravelmente – dos 2,9% para os 0,67 por cento.
“Estes resultados mostram ainda que, sem vacina, a almeja imunidade de grupo pode não se verificar a tempo de evitar um segundo surto, quando as pessoas começarem a sair à rua de forma mais generalizada”, sublinham ainda os autores do estudo.
Não são os únicos a avançar este tipo de conclusões. Afinal, um estudo espanhol, também publicado esta semana, revelou resultado semelhantes. Apenas 5% da população tinha estado em contato com o vírus, muito longe de qualquer valor que pudesse conferir imunidade de grupo. Segundo outra avaliação do Imperial College, de Londres, não há sinais disso em nenhum país da Europa.
E mesmo esta réstia de esperança – a de um dia termos imunidade de grupo – pode, já indicavam também outros estudos, não funcionar nunca como um superpoder.