Não é preciso jejuar quarenta dias e noites num deserto para chegar às vésperas do Domingo de Páscoa a sonhar com borrego assado, folar de ovos e coelhinhos de chocolate. São tudo tentações menores quando comparadas com aquelas a que, segundo a narrativa bíblica, Jesus Cristo resistiu para poder entrar no chamado Reino de Deus, claro, mas sucumbindo a elas estaremos nós a entrar diretamente no reino dos gordinhos?
A resposta é “nim”, conclui-se ao ouvir a nutricionista Ana Bravo, autora do livro Dieta Viva! e de outras cinco obras. “Desde que a pessoa consiga depois voltar às regras alimentares, não peço que faça sacrifícios no Domingo de Páscoa – nem sequer se estiver em processo de emagrecimento, salvo no caso de uma patologia”, diz, “mas, se tiver a disponibilidade e o gosto para cozinhar, há várias receitas saudáveis de Páscoa e dicas muito simples que pode seguir.”
Comecemos pelas dicas. Em assados, guisados e estufados, a nutricionista aconselha:
1. Reduzir a gordura: 1 colher de sobremesa por pessoa basta;
2. Usar azeite (em vez de óleo, manteiga, margarina…);
3. Adicionar bastante cebola e outros legumes para conseguir reduzir a quantidade de gordura.
Nos doces, sugere:
4. Substituir uma parte ou a totalidade da farinha por integrais ou misturas;
5. Não usar açúcar branco – preferir mascavado ou idealmente usar stevia (ou uma mistura de ambos);
6. Para adoçar bolos também pode usar puré de fruta ou fruta ralada.
Nos folares salgados, recomenda:
7. Utilizar apenas azeite, como gordura;
8. Pode reduzir a quantidade de gordura adicionada, substituindo uma parte por puré de courgette ou chuchu;
9. Usar frango (ou vitela, ou ambos) em vez dos enchidos – ou pelo menos misturar, para reduzir a quantidade utilizada;
10. Usar farinha integral (pelo menos substituir uma parte).
E quanto aos chocolates, convém:
11. Selecionar os que têm mais de 70% de cacau, idealmente adoçados com stevia.
Em relação ao sal, Ana Bravo avança uma só dica:
12. Usar o mínimo possível (ou não usar).
Por fim, a nutricionista lembra ainda que devemos:
13. Não exagerar nas quantidades;
14. Variar os alimentos;
15. Preparar as suas próprias receitas, sempre que possível, pois desse modo sabe-se exatamente que ingredientes foram utilizados.
Por ser habitualmente festejada num único dia, a Páscoa não terá um impacto tão grande como o Natal, por exemplo. “Nesse período, as tentações e os excessos chegam a suceder-se ao longo de duas semanas ou mesmo um mês. Há muitos jantares e as coisas boas que depois ficam em casa, enquanto a Páscoa”, compara, “é normalmente um dia de exceção.”
Mesmo assim, há três anos que Ana Bravo publica no seu blogue Nutrição com Coração receitas saudáveis da Páscoa, como esta de Folar de Frango e Vitela, menos calórica. “A comida tem de estar sempre associada ao prazer e não a um sacrifício constante”, defende. “E a nossa dieta mediterrânica inclui o convívio à mesa, com a passagem de receitas entre gerações. Não devemos perder a nossa cultura.”