Até há bem pouco tempo, beber café era desaconselhado para quase tudo e encarado como um vício a abolir por quem queria seguir um estilo de vida saudável. Pois bem, isso está arrumado a um canto bafiento, culpa dos muitos estudos que vieram ultrapassar essa teoria e louvar a cafeína que, provou-se, desacelera doenças degenerativas como Parkinson ou Alzheimer. Os amantes desta bebida energética podem, por fim, pegar nas chávenas, sem peso na consciência.
Agora foi lançada mais uma acha para queimar de vez as ideias feitas que ainda maldizem a cafeína. Um estudo, liderado por investigadores da Universidade de Coimbra e de Bona, na Alemanha, chegou à conclusão que dois ou três cafés por dia proporcionam uma resposta rápida ao processo inflamatório das células da retina. Pelo menos em ratos, pois a investigação, embora tenha começado em 2013, ainda não chegou aos humanos.
Ana Raquel Santiago, 38 anos, investigadora no laboratório Retinal Dysfunction and Neuroinflammation da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, e coordenadora deste estudo, explica que “num primeiro momento a cafeína estimulou o ambiente pré-inflamatório”. Mas em períodos de toma mais prolongada no tempo, acabou por proteger as células, evitando a sua morte. “Podemos especular se uma pessoa que tenha um episódio isquémico na retina, e beba café moderadamente, resolva mais rapidamente esses problemas e os inerentes danos, porque, nesses casos, a cafeína funciona como um coadjuvante.”
Este tipo de conclusão abre caminho ao desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas para doenças como a retinopatia diabética ou o glaucoma – duas das principais causas de cegueira no mundo, sem cura ou tratamentos eficazes.
Por enquanto, os cientistas pretendem continuar o trabalho, percebendo qual a atividade da cafeína na acuidade visual e estender as conclusões a outras doenças que tenham semelhança com a isquémia da retina.