Investigadores da Universidade de Harvard realizaram um inquérito anónimo a 1826 pilotos de mais de 50 países, na sequência do incidente em que Andreas Lubitz, o copiloto deprimido da Germanwings ter deliberadamente conduzido o avião em que seguia a 24 de Março de 2015 em direção às montanhas, matando 149 pessoas.
O inquérito está expresso num artigo científico publicado no journal Environmental Health e revela que 12.6% dos pilotos inquiridos se encontra dentro do padrão de depressão provável e que 4.1% dos inquiridos reportou “ter sentido e pensado nas ultimas duas semanas que estava melhor morto ou automutilado”. São 57 pilotos e 49 deles voaram no mês que antecedeu o inquérito. Também 24 destes 57 reportaram que estes problemas “tornavam extremamente mais difícil o seu trabalho, as tarefas domésticas e as relações com os outros”.
A extrapolação não é evidente mas, se esta amostra (os 4.1% numa situação mais grave) representasse a totalidade dos pilotos a voar neste momento, isso poderia significar que mais de 5700 de um total de cerca de 140000 pilotos de aviação por todo o mundo têm este tipo de pensamentos suicidas.
Relativamente ao artigo agora publicado, os investigadores consideraram os resultados “surpreendentes” e escreveram ainda: “Centenas dos pilotos que estão a voar neste momento têm de lidar com problemas relacionados com depressão e até pensamentos suicidas, sem se tratarem por medo de causarem um impacto negativo na sua carreira”.
O questionário foi feito de forma totalmente anónima para tentar garantir a genuinidade das respostas e avaliou os pilotos de muitos pontos do mundo em vários aspetos, incluindo ao nível da saúde mental.
Os problemas de assédio verbal e sexual também foram descobertos e reportados pelo estudo. Nas camadas com maiores proporções dos níveis de depressão foram encontrados casos de pilotos que se servem de medicação para dormir e que admitem ter sido assediados sexualmente e verbalmente.
Segundo os investigadores, foi ainda notória a diferença entre os pilotos homens e os pilotos mulheres. “As mulheres piloto reportaram mais dias com menos saúde mental e estão entre a maioria dos casos associados à depressão, o que parece espelhar a realidade reportada entre a população em geral”.
O Rob Hunter, responsável de segurança da British Airline Pilots’ Association – a Associação de pilotos ingleses, veio dizer que genericamente “os pilotos sempre tiveram uma muito boa saúde física e mental mas que, como em todas as áreas da vida, alguns sofrem de depressão e o problema pode existir entre os que ocupam lugares críticos em termos de segurança”.
“As lições a retirar tanto do caso Gemanwings como deste estudo são as de que é necessário trabalhar no sentido de acabar com o estigma relativo à saúde mental porque ninguém devia ter medo de reportar esses problemas”, diz Hunter, reforçando que é preciso mudar as mentalidades.
No caso britânico, a União de Trabalhadores ingleses tem vindo a alertar para os vários problemas associados à British Airlines: “mais de dois terços da tripulação trabalha sem estar bem porque não tem capacidade financeira para faltar” e 84% do staff diz que a sua situação financeira lhes causa “stress e depressão” e alguns deles “dormem muitas vezes no carro porque não têm dinheiro para conduzir até casa”.