O atual contexto torna evidente a necessidade de se responder ao desafio da resiliência face a eventos disruptivos, sejam pandemias, perturbações económicas e geopolíticas, alterações climáticas ou acontecimentos relacionados com as cadeias de abastecimento. A resposta passa por uma transformação urgente que obriga a uma atuação coordenada relativamente às abordagens a uma economia circular, nas suas várias dimensões e considerando todos os setores económicos, entre os quais o da água. É fundamental extrair o maior valor económico dos materiais já mobilizados na economia, através de ciclos de utilização, com vantagens económicas para fornecedores e utilizadores e vantagens ambientais decorrentes da menor extração e importação de matérias-primas, redução na produção de resíduos e diminuição de emissões associadas.
A circularidade da água é intrínseca à sua natureza, e os serviços de água valorizam este recurso ao promover a sua aplicação numa sequência de usos consecutivos para diferentes propósitos, em função dos diferentes níveis de qualidade, repetidamente em vários estágios, numa “cascata” de utilizações. Mas existem outras oportunidades no contexto da economia circular, em que o setor da água se assume um ator relevante. Os diversos recursos materiais presentes na água podem ser recuperados, regenerados e valorizados. É neste desiderato que a AdP VALOR desenvolve um conjunto de práticas e de modelos de negócio que permite potenciar e replicar, em todo o País, os casos de sucesso que muitas das empresas do Grupo Águas de Portugal já desenvolvem.
Encontramos, de norte a sul, exemplos da utilização de água(s), nos seus diversos níveis de qualidade e aptidão, para diferentes usos, designadamente no que toca à utilização de água residual tratada na rega de vinhas no Alentejo, de campos de golfe no Vidago e no Algarve, na limpeza urbana em Mafra, na rega de espaços verdes em Lisboa e na climatização de edifícios da Universidade de Aveiro e, ainda, no fornecimento de água não potável para fins industriais, nomeadamente na zona industrial e logística de Sines.
No que respeita à valorização dos materiais, é demonstrativa a incorporação de subprodutos do tratamento de água para consumo humano em aplicações tão distintas quanto a produção de tijolo vermelho (o “tijolo de água”), como reagente no processo de tratamento de águas residuais (substituindo materiais sintéticos importados) ou como matéria-prima para elementos pré-fabricados de betão. Nas operações de tratamento de águas residuais urbanas, os subprodutos são valorizados maioritariamente como fertilizante 100% orgânico para a agricultura, capaz de fornecer nutrientes essenciais à produção de alimentos.
Nas ETAR, é também gerada energia renovável (biogás), quer de base endógena (a partir dos subprodutos dos processos de tratamento) quer a partir de fluxos de materiais de origem agroindustrial em ETAR urbanas, que se assumem como alternativas aos tradicionais destinos de deposição sem valorização destes recursos, de que é exemplo o tratamento de efluentes de queijarias na Península de Setúbal, de efluentes pecuários na região de Leiria ou de gorduras na região do Norte. Também na área da prestação de serviços, a remanufactura de contadores de água e as ferramentas digitais de gestão de ativos, que permitem otimizar as operações, são exemplos relevantes na promoção da circularidade de recursos.
Esta visão e respetivas linhas de ação do Grupo AdP no âmbito da circularidade, promovendo interfaces com vários setores económicos e explorando simbioses naturais, são um forte contributo para que Portugal possa cumprir as metas estabelecidas ao nível nacional e internacional, rumo a uma economia descarbonizada e baseada num modelo circular, essencial para sermos capazes de nos tornarmos mais resilientes aos desafios atuais e preparados para o futuro.