Se perguntar a qualquer ucraniano quando é que a primavera começa, é quase garantido que vai ouvir, sem hesitações, “1 de março”.
A resposta não está errada. A diferença é que, em muitos países, é costume usar-se as estações do ano meteorológicas em vez das astronómicas. A primavera, neste caso, vai de 1 de março a 31 de maio; o verão, de 1 de junho a 31 de agosto; o outono é constituído pelos meses de setembro, outubro e novembro, e o inverno, por dezembro, janeiro, fevereiro. Noutros países da ex-URSS, como a Rússia e o Cazaquistão, tal como na Austrália e na Nova Zelândia, domina também o sistema meteorológico.
É igualmente essa a definição usada por quem estuda o clima e a meteorologia, em todo o mundo. Os boletins sazonais do IPMA, por exemplo, analisam as estações dessa forma: o inverno é constituído pelos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, e não de 20, 21 ou 22 de dezembro a 19, 20 ou 21 de março.
Dividir o ano em estações astronómicas é uma prática ancestral, baseada em observações feitas há milhares de anos face à posição relativa do Sol, com quatro eixos: os solstícios (o dia de solstício de inverno é o mais curto do ano, o de verão é o mais longo) e os equinócios (quando os dois hemisférios estão à mesma distância do Sol, apanhando o mesmo tempo de luz; ou seja, o equador está alinhado com a estrela).
Culturalmente, em Portugal e na maioria da Europa, as estações do ano seguem a linha astronómica, marcada pelos equinócios e solstícios. Nesta definição, dezembro é um mês maioritariamente de outono, uma vez que só cerca de dez dias se encontram dentro do inverno astronómico – embora, na realidade, seja muito mais conotado pela generalidade das pessoas com o inverno do que com o outono.
A criação das estações meteorológicas, no início do século XX (as primeiras propostas nesse sentido remotam ao século XVIII), dá prevalência ao clima em detrimento da posição dos astros. Verão é constituído pelos três meses estatisticamente mais quentes, inverno pelos três mais frios e primavera e outono são os meses de transição, entre esses períodos.
Esta divisão facilita o trabalho dos meteorologistas e climatologistas, a quem interessa estudar os dados em função do clima, tal como pelo facto de ser um sistema mais estático, já que as estações astronómicas mudam ligeiramente todos os anos. A primavera, no Hemisfério Sul, por exemplo, pode começar a 19, 20 ou 21. Desde o início do século, calhou duas vezes no dia 21 (2003 e 2007) e todas as outras a 20. Em 2044 e em 2048, vai começar a 19. Este ano, a primavera astronómica chega a Portugal às 3h06 de dia 20.
Seguindo o sistema meteorológico, o verão e a primavera são as estações mais longas, com 92 dias cada um. O outono tem 91 e o inverno 90 num ano comum e 91 num bissexto (que é o caso deste ano).
A juntar às estações meteorológicas e astronómicas, há ainda as estações fenológicas, que seguem os ciclos naturais da flora e da fauna e interessam sobretudo a biólogos e outros estudiosos da natureza. Neste caso, a primavera não começa ao mesmo tempo ou na mesma data em todo o lado. Na Europa, inicia-se primeiro no sul de Portugal, quando arranca a época de floração das árvores e de migração das aves; os países escandinavos são os últimos a sentir os primeiros efeitos da primavera fenológica.
Quando se diz que a primavera tem começado cada vez mais cedo, devido aos efeitos das alterações climáticas, que têm alterado o ritmo biológico das plantas, está a falar-se da primavera fenológica.