Atualmente, existe apenas uma central eólica offshore em Portugal, a WindFloat Atlantic, com 25 MW. Para cumprir os objetivos a que o governo se comprometeu com a Comissão Europeia, o País terá de ter, daqui a sete anos, uma capacidade instalada de 2 GW – 80 vezes mais do que tem hoje.
Um fundo de investimento dinamarquês pretende construir um parque eólico precisamente de 2 GW. Ou seja, só por si, seria suficiente para cumprir a meta nacional, definida no Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC). O projeto, chamado Nortada, representa um investimento de €8 mil milhões e contará com “100 a 120 aerogeradores”, segundo Afonso César Machado, responsável para o mercado português da Copenhagen Offshore Partners (COP). Cada torre terá uma altura equivalente a um prédio de 50 andares. “A escala dos projetos offshore é de facto muitíssimo importante. Fazem muito mais sentido quando são quando são de grande escala. É importante para os otimizar ao nível da produção de eletricidade e do investimento.”
A COP pretende instalar o seu primeiro parque eólico em Portugal ao largo da Figueira da Foz, que é precisamente a área que terá a maior fatia da capacidade nos leilões que o governo quer lançar até 2030, com 4 GW dos 10 GW previstos; o resto será distribuído por Viana do Castelo, Leixões, Sintra-Cascais e Sines, para uma área total de exploração de 3 mil quilómetros quadrados (um pouco mais do que a área dos distritos de Lisboa ou de Aveiro). “Estamos agora, obviamente, à espera da finalização das zonas offshore que serão propostas pelo governo português, mas estamos muito satisfeitos pelo facto de a zona da Figueira da Foz ter sido incluída nesta primeira ronda”, assume o representante da COP em Portugal.
A Dinamarca é um país com muita experiência em eólica offshore, mas não na tecnologia flutuante, que terá de ser utilizada em Portugal – o mar do Norte junto à costa dinamarquesa é pouco profundo, ao contrário do Atlântico no nosso litoral. “Tudo indica que as zonas propostas ao largo da costa portuguesa necessitarão de tecnologia flutuante. É uma decisão técnica, porque economicamente, a partir dos 60 ou 70 metros de profundidade, a tecnologia fixa deixa de fazer sentido. Mas olhamos com muita atenção já há algum tempo para a tecnologia flutuante, nomeadamente em países como a Noruega e a Escócia.” A Europa, aliás, acrescenta Afonso César Machado, “está na linha da frente na eólica offshore”.
O gestor admite que os custos da tecnologia offshore são muitos maiores do que na onshore, mas lembra que também os benefícios são outros, devido à qualidade dos ventos e à maior dimensão das torres eólicas. E não há muito mais espaço para crescer em terra, sublinha, principalmente se, além da eletrificação, quisermos ter energia limpa para produzir hidrogénio. “Portugal não tem muito espaço disponível em terra. Se queremos descarbonização a sério, o eólico offshore é uma peça fundamental. É igualmente importante que Portugal se posicione nesta indústria, que consiga captar os investimentos, porque são investimentos que vão ficar cá a longo prazo, vão criar emprego e nos posiciona como um país que pode exportar tecnologia. Não foi por acaso que a Dinamarca se tornou um país de referência. Nesta indústria, é preciso começar cedo.”
O parque eólico deverá ter outras atividades associadas, o que ajuda a diluir custos (as mesmas pessoas que trabalham, por exemplo, num projeto de aquacultura junto às torres podem receber formação para certas ações de manutenção dos equipamentos). “Encontramo-nos já a trabalhar com uma série de parceiros nesse sentido”, revela o representante do fundo dinamarquês. “Estamos a olhar com atenção para a questão do multiuso, porque é importante, não só numa perspetiva económica, mas principalmente numa perspetiva de sustentabilidade. Estes projetos têm de ser feitos de forma a incluir os vários agentes do mar, porque são áreas grandes e onde mais actividades se podem encaixar. É uma pena se se fizerem projetos de offshore sem levar isso em consideração.”