A capacidade instalada de eólica offshore na União Europeia é, atualmente, de 16 gigawatts (GW), o que representa cerca de metade da capacidade global, que ronda os 30 GW. O objetivo dos governos europeus é chegar a 2030 com 150 GW instalados, sendo que, em 2022, foram instalados e colocados em operação apenas 2,5 GW, e a ambição europeia é de instalar mais 21 GW até 2028. Ou seja, a União Europeia enfrenta um importante desafio no que se refere às metas para aumento da capacidade instalada em eólica offshore.
Na visão da APREN, o cumprimento deste objetivo implica, desde logo, a aposta na expansão da cadeia de abastecimento, para que o setor entre em velocidade de cruzeiro. A capacidade industrial, mesmo em termos europeus, para produzir cabos e construir subestações, por exemplo, é ainda insuficiente. É preciso triplicar a capacidade de produção de turbinas offshore. Os avanços pontuais que vão sendo anunciados são ainda parcos.
Um pouco por toda a União Europeia vão saindo do papel os projetos que dão corpo a esta ambição. A Finlândia tornou-se o terceiro país da Europa a realizar leilões de arrendamento de espaço público marítimo para energia eólica offshore. A Polónia está a realizar o seu segundo leilão neste formato, já muito usado no Reino Unido. Estes leilões podem utilizar critérios não relacionados exclusivamente com o preço.
Em França, essa está a ser a grande aposta. Um dos últimos leilões, para 1 GW, na modalidade de Contract for Difference (CfD), fixou-se nos €44,9/MWh. Mas o preço apenas pesou em 75% do procedimento. No outro prato da balança foram considerados outros fatores, nomeadamente um fundo de monitorização ambiental. França tem atualmente seis leilões de offshore a decorrer para 3,25 GW.
A Noruega já lançou também os primeiros leilões para 3 GW de eólica offshore. O modelo é igualmente baseado em CfD. O bottom-fixed tem como critério único de seleção o preço, mas no caso do flutuante a estratégia é a aposta em outros critérios. A Irlanda avançou igualmente com um leilão para 2,5 GW de offshore fixo com base em CfD. O preço estará totalmente indexado a fatores como o preço do aço, o que poderá funcionar como um bom exemplo para outros países.
Um grupo que integra os principais fabricantes de turbinas e promotores de parques eólicos da Europa comprometeu-se com o Governo dos Países Baixos a ter cadeias de valor globais mais sustentáveis, nomeadamente em matéria de direitos humanos e laborais e também de impactos ambientais.
No Mar do Norte também vão avançando as ilhas energéticas. A Bélgica anunciou um consórcio que construirá a “Princess Elisabeth“, que servirá de hub às subestações dos novos parques eólicos offshore. A ilha será construída até 2026 e deverá estar operacional até 2028. A Dinamarca planeia realizar um leilão no próximo ano para escolher um consórcio para construir a sua própria ilha energética no Mar do Norte.
O vento desta inovação offshore na Europa já chegou até ao petróleo e gás. A Escócia anunciou os vencedores de um concurso para parques eólicos offshore que irão impulsionar a eletrificação do setor de petróleo e gás. A Noruega irá em breve comissionar um parque eólico flutuante de 95 MW onde 11 turbinas irão alimentar a injeção de água em cinco plataformas de petróleo e gás.
Por cá, na Península Ibérica, identificam-se áreas para eólica offshore. Portugal já mapeou as oito novas, e o governo quer leiloar até 11 GW a partir do final deste ano. A meta é ter 10 GW em operação até 2030. Espanha já aprovou o Plano de Espaço Marítimo com 5.000 km2 para eólica flutuante offshore. O Governo espera realizar um primeiro leilão até ao final do ano, embora ainda necessite de atualizar as regras de licenciamento e definir o desenho do leilão. O objetivo são 3 GW até 2030.
A capacidade instalada de energia eólica offshore continuará a crescer, guiada não só pela urgência das metas climáticas mas também pela necessidade de salvaguardar a autonomia energética e segurança de abastecimento. Aproveitar o vento a partir do mar tornou-se fundamental para o futuro energético do continente.