Os compromissos até agora anunciados na COP26 com metas traçadas para 2030 podem não ser suficientes para evitar que a temperatura global suba 2,4 ºC durante este século, valor que fica muito aquém do estipulado no Acordo de Paris, em 2015. Este é o valor estimado pelo mais relatório divulgado esta semana pela Climate Action Tracker (CAT), e é o que tem feito manchetes no jornais. No entanto, o mesmo relatório adianta que os acordos a longo prazo podem ser a solução para evitar o cenário mais catastrófico, desde que sejam cumpridos, baixando o aumento de temperatura para menos de 2 ºC.
É certo que não será possível evitar que a temperatura suba menos de 1,5 ºC, mas se os países que se comprometeram a atingir a neutralidade carbónica em 2050 e 2070 cumprirem o prometido, a subida da temperatura poderá ser de 1,8 ºC até ao final do século, calcula a CAT, tal como tinha estimado a Agência Internacional da Energia, na semana passada.
Olhando apenas para os esforços que estão em cima da mesa para os próximos nove anos, tal como o fim do financiamento de combustíveis fósseis no estrangeiro já em 2022 ou a promessa de reduzir as emissões de metano em 30% até ao final da década, o mais provável é que se emita “aproximadamente o dobro em 2030 do que o requerido para 1,5 ºC”, diz o relatório, citado pela Reuters.
Mas não é pelas metas curtas serem insuficientes que devem ser ignoradas, uma vez que se as emissões globais de gases de efeito estufa, principalmente dióxido de carbono da queima de carvão, petróleo e gás, caírem 45% até 2030 em relação aos níveis de 2010, poderá ser possível atingir o chamado “zero líquido” em 2050, pois outros países estão também a trabalhar para reduzir as emissões nas décadas seguintes, como é o caso da Índia. Se os países não cumprirem os compromissos feitos a curto prazo, em nove anos, as emissões podem subir 13,7% face aos valores obtidos em 2010.
Também Bill Hare, chefe executivo da Climate Analytics, um das organizações parceiras da CAT, defende que os compromissos a curto prazo devem ser cumpridos com a máxima urgência: “Estamos preocupados com o facto de alguns países estarem a tentar retratar [a Cop26] como se o limite de 1,5 ºC estivesse quase garantido. Mas não é, está muito longe disso, e eles estão a minimizar a necessidade de obter metas de curto prazo para 2030 em linha com 1,5 ºC”, afirmou, em declarações ao The Guardian.
O relatório anual de referência do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), publicado antes da cimeira mundial do clima (COP26) já tinha alertado para a possibilidade de um aquecimento “catastrófico” de 2,7 ºC, ou de 2,2 ºC tendo em conta os objetivos de neutralidade carbónica anunciados para 2050, colocando em cima da mesa a importância do cumprimento das metas a prazo.