Há 12 anos, a União Europeia baniu a utilização de Bisphenol A (conhecido por BPA) em biberões de plástico, devido aos potenciais impactos na saúde dos bebés. Vários países seguiram o exemplo europeu. Mas um estudo publicado hoje mostra que a proibição pode ter de ir mais longe. De acordo com uma análise em vários países europeus, incluindo Portugal, quase todas as pessoas estão expostas a quantidades deste químico acima dos níveis máximos recomendados pela Agência Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA). O BPA é utilizado na produção de embalagens de plástico e de metal, muitas vezes de comida ou bebida.
O estudo testou a urina de 2 756 adultos em onze países, representativos do norte, sul, leste e oeste do continente. Os resultados positivos, superiores aos valores considerados seguros, variam entre 71% e 100%, com a média nos 92%. Em Portugal, todas as amostras testadas acusaram níveis demasiado elevados de BPA.
O relatório (da responsabilidade da Agência Europeia do Ambiente e integrado num projeto de investigação sobre biomonitorização humana financiado pela UE, o HBM4EU), publicado esta quinta-feira, conclui que “as pessoas estão continuamente expostas ao BPA à medida que é libertado de recipientes de alimentos e outros produtos de uso diário.” Os autores avisam que “o BPA pode prejudicar a saúde humana devido às suas propriedades como desregulador endócrino que pode alterar o funcionamento do sistema hormonal”, além de poder “danificar o sistema reprodutivo e afetar negativamente o sistema imunológico”. “Os níveis de BPA medidos na urina das pessoas também excedem os limites de segurança europeus recentemente revistos, o que levanta preocupações de saúde a longo prazo para todos.”
Em comunicado, a Agência Europeia do Ambiente alerta que “a exposição da população ao BPA na Europa é demasiado elevada e constitui um potencial problema de saúde”.
“Podemos constatar que o Bisfenol A representa um risco muito mais generalizado para a nossa saúde do que se pensava anteriormente. Temos de levar a sério os resultados desta investigação e tomar mais medidas a nível da UE para limitar a exposição a produtos químicos que representam um risco para a saúde dos europeus”, disse Leena Ylä-Mononen, diretora-executiva da EEA.
O BPA é usado em enormes quantidades. Na UE, mais de um milhão de toneladas deste químico sintético são produzidas ou importadas todos os anos, para o material ser utilizado no fabrico de polímeros, como plásticos de policarbonato e poliepóxidos. “Estes materiais são usados numa variedade de produtos de consumo, incluindo embalagens de alimentos”, lê-se no relatório. “Por exemplo, os policarbonatos são usados em garrafas plásticas reutilizáveis, biberões e recipientes de armazenamento. Os poliepóxidos são usados para revestir latas de alimentos e bebidas, bem como para revestir o interior de canalizações usadas para fornecer água potável.”
Um parecer centífico da EFSA, divulgado em abril, já admitia haver um risco devido a essa exposição, “especialmente a partir de produtos alimentares enlatados”. Segundo a EFSA, o BPA pode danificar o sistema imunitário mesmo em doses muito baixas, a que se somam outros efeitos, como “desregulação endócrina, redução da fertilidade e reações alérgicas na pele”. O estudo da Agência Europeia do Ambiente veio agora demonstrar que essa exposição está ainda mais generalizada do que se pensava.