Tudo começou numa reunião de brainstorming. O objetivo era encontrar uma forma de passar uma mensagem de sustentabilidade. “A resposta estava mesmo debaixo do nosso nariz: o nosso primeiro equipamento é amarelo, o segundo é azul; se o terceiro fosse verde, tínhamos aqui as cores do ecoponto. Dava para fazer um apelo à reciclagem”, recorda Guilherme Müller, CEO do Estoril Praia. Seguiu-se um redesenho das camisolas para transmitir essa ideia. A camisola amarela ficou com um padrão de plástico amachucado, a azul, com um de papel rasgado e a verde, vidro partido. Por uma questão de coerência, os equipamentos são fabricados, por uma empresa nacional, em material reciclado, com o apoio da Kappa.

Mas os equipamentos são um ponto de partida, não de chegada. “Definimos dois eixos estratégicos da SAD, a responsabilidade social e a responsabilidade ambiental”, explica Müller. “O futebol tem muita visibilidade em Portugal. A nossa obrigação é aproveitar essa visibilidade para as causas importantes. Todos os dias somos confrontados com a urgência de tomarmos ações concretas que possam ajudar a melhorar o nosso ambiente. E não nos devemos deixar desmotivar por sabermos que não conseguimos sozinhos mudar o mundo. Com as nossas pequenas ações, com esta visibilidade, temos de tentar contagiar as pessoas que estão à nossa volta.”
Entre as iniciativas “verdes”, destacam-se o fim das garrafas de água descartáveis usadas pelos jogadores nos treinos e nos jogos (que passaram a ter, cada um, a sua própria garrafa reutilizável) e a plantação de árvores pelos futebolistas em parques do concelho de Cascais, através de um protocolo com a câmara – uma árvore por cada golo marcado pelo Estoril. Nos vídeos de apresentação, os jogadores mostram ainda os seus dotes futebolísticos com a reciclagem em pano de fundo, chutando, por exemplo, garrafas de plástico usadas para um caixote amarelo. Neste momento, o clube está também a tentar encontrar um parceiro que lhe permita compensar as emissões de carbono provocadas pelas deslocações do autocarro da equipa.

O diretor-geral do clube admite que há razões para lá da responsabilidade social e ambiental que empurraram o Estoril para este caminho de sustentabilidade. “Um clube como o nosso precisa de identidade, precisa que as pessoas se identifiquem com ele. Isso não é absolutamente evidente quando estamos a 20 quilómetros de Lisboa, onde estão dois dos três maiores clubes portugueses. Há um interesse em que o clube seja simpático, para que as pessoas gostem dele. Mas também só o fazemos porque temos as nossas convicções sobre a sustentabilidade.”
Este reforço da identidade é sobretudo apontada à própria região do clube. “Se calhar, não vou conseguir passar a minha mensagem às pessoas de Chaves ou de Vila Real de Santo António. Mas o Estoril, que é o maior representante desportivo de Cascais, tem de conseguir passá-la a quem mora no concelho. Estamos a falar de 240 mil pessoas…”
Os jovens adeptos são o público preferencial, até pela identificação com outros jovens – os que constituem a espinha dorsal da equipa. “Além de o futebol ser praticado pelos jovens, eles reconhecem-se nos jogadores. Temos aqui uma importância acrescida. Além disso, são também os jovens que mais facilmente aprendem a mudar comportamentos.”
Essa mudança de comportamentos começa pelos jogadores, que tiveram de se habituar a uma alteração radical: o fim das garrafas de água convencionais, substituídas por garrafas reutilizáveis e individuais. “Na maior parte dos casos, os jogadores bebem meia garrafa, um terço, e atira-a fora. Nós já tínhamos um processo instalado de de reciclagem, portanto, os materiais eram todos reciclados, mas, no fim do ano, fazíamos as contas e custava-nos a todos perceber a quantidade absurda de garrafas utilizadas.”
A ideia não foi imediatamente recebida com entusiasmo pelos jogadores da casa. “É difícil mudar hábitos”, reconhece Guilherme Müller. “Na primeira semana, diziam que não encontravam a garrafa deles, que já a tinham perdido, que aquilo não ia funcionar. Na segunda semana, as coisas começaram a estabilizar. Agora, já vão direitos à sua garrafa. É como o cinto de segurança: demorou algum tempo até as pessoas se habituarem, mas agora toda a gente o põe com naturalidade.”

As iniciativas sustentáveis do Estoril-Praia já lhe valeram um prémio de responsabilidade social. O dirigente do clube quer ir mais longe, embora admita que é um percurso com barreiras difíceis de transpor. “Gostaria que, a médio prazo, as operações do Estoril fossem neutras em carbono. Mas reconheço que há muitas dificuldades, a começar pelo facto de termos um estádio dos anos 1940. Há uma série de processos para adaptar as nossas instalações que demoram muito tempo a implementar.”
Outra ambição, continua Guilherme Müller, passa por contaminar outros com o bichinho da sustentabilidade. “Os clubes de futebol são uma âncora das suas comunidades. Têm de assumir esse papel e, portanto, adotar este género de comportamento, passar este tipo de mensagens positivas.”