Encontradas a poluir em terra e em mar, as pontas de cigarro são, embora pequenas, uma grande ameaça tanto para a saúde como para o ambiente. É com isto em mente que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Secretaria da Convenção-Quadro da Organização Mundial da Saúde para o Controlo do Tabaco se unem com o objetivo de lançar uma campanha nas redes sociais que alerte para as consequências daquilo que se esconde do olhar – os microplásticos.
Além dos efeitos negativos já conhecidos dos cigarros, a campanha procura chamar especial atenção para os microplásticos que se encontram nas pontas de cigarro, um dos resíduos mais descartados do mundo que representam 766 milhões de quilos de lixo tóxico a cada ano.
A parceria é facilitada pela campanha Clean Seas do PNUMA, uma coalizão global composta por 63 países dedicados a acabar com a poluição marinha por plásticos, contando com a participação dos Embaixadores da Boa Vontade do PNUMA e os Jovens Campeões da Terra, assim como de alguns influencers interessados pela causa.
Anualmente, mais de seis biliões (milhões de milhões) de cigarros são produzidos em todo o mundo, e em cada um deles existe um filtro – ou ponta – composto, em grande parte, por microplásticos conhecidos como fibras de acetato de celulose. Quando descartados de forma inadequada, estes filtros são decompostos pela ação da luz solar e da humidade, o que facilita a libertação de microplásticos, metais pesados e outras substâncias químicas, com significativas consequências na qualidade dos ecossistemas.
“A Secretaria da CQCT da OMS tem o conhecimento técnico do impacto dos produtos do tabaco não apenas na saúde humana, mas também no meio ambiente”, disse Atif Butt, chefe de advocacia pública do PNUMA. “Ao unir a experiência do PNUMA e da Secretaria da CQCT da OMS sob a ativação do Clean Seas em microplásticos, pretendemos destacar como a nossa saúde está intrinsecamente ligada à do nosso planeta”, acrescentou.
Tal como afetam a saúde humana, os cigarros e os seus microplásticos afetam também a saúde de muitos ecossistemas, nomeadamente o marinho. De facto, as pontas de cigarro são um dos resíduos mais encontrados nas praias, tornando os ecossistemas marinhos mais suscetíveis aos vazamentos destas substâncias.
Os microplásticos são encontrados em quantidades crescentes no oceano. A ONU divulgou, em 2017, que há cerca de 51 mil milhões de partículas microplásticas nos mares, um número 500 vezes superior ao número de estrelas na nossa galáxia.
Quando ingeridos, os produtos presentes nos microplásticos causam mortalidade a longo prazo na vida marinha, incluindo pássaros, peixes, mamíferos, plantas e répteis.
Esses mesmos microplásticos podem também entrar nas cadeias alimentares e resultar em sérios impactos não só para a saúde humana, resultando em mudanças na genética, desenvolvimento cerebral, taxas de respiração e muito mais, como para a saúde de outros organismos.
De acordo com divulgações de 2018 do Parlamento Europeu, já foram encontrados microplásticos em alimentos e bebidas, incluindo cerveja, mel e água da torneira, assim como em fezes e placentas humanas.