Seria de prever que, num momento em que a Covid-19 continua a moldar as nossas vidas e a emperrar a economia, as pandemias estivessem na mente dos gestores empresariais como grande desafio para os negócios. Aparentemente, essa é a menor das preocupações. Um inquérito do CEMS, uma rede gobal de 34 universidades de escolas de gestão de todo o mundo, em que a Nova SBE (School of Business and Economics) é a única representante portuguesa, põe o ambiente no topo dos desafios para este século.
O estudo, realizado em setembro e que contou com a participação de 4 206 ex-alunos das escolas representadas no CEMS (boa parte deles com cargos de liderança em empresas) de 75 países, concluiu que a crise ambiental é agora mais preocupante do que o progresso tecnológico. No inquérito anterior, de 2018, 28% haviam elegido a tecnologia como maior desafio do século XXI, à frente do ambiente para o mundo dos negócios, com 23%. Três anos mais tarde, a atenção ao ambiente disparou para 43%, deixando a tecnologia muito para trás, com 27%. Seguem-se as mudanças de poder político e económico mundial (14%), a instabilidade política (6%) e as pandemias (3%).
Entre os 291 inquiridos portugueses ou ex-alunos da Nova SBE, a preocupação com a crise ambiental parece ser ainda maior do que a média: 48%; outros 29% apontam para a tecnologia e 9%, as mudanças do poder político e económico.
Em comunicado, numa análise aos resultados, Lars Strannegard, vice-presidente da CEMS (e presidente da Stockholm School of Economics) diz que “estes novos números revelam uma mudança impressionante no número de profissionais em todo o mundo que veem a emergência ambiental em curso, incluindo o desastre climático iminente, como o maior desafio que os líderes empresariais internacionais terão de enfrentar”.
“Há três anos, a rapidez do avanço tecnológico era a principal preocupação dos entrevistados. No entanto, as pesquisas indicam que as pessoas já não têm tanto medo do progresso tecnológico como antes. Esse facto pode advir da aceleração e disseminação da digitalização que a pandemia de Covid-19 provocou em poucos meses. Os profissionais abraçaram totalmente as formas digitais de trabalho porque não existia outra forma de lidar com a situação que se colocou.”
O CEMS já tem, desde a década de 90, um grupo de trabalho (intitulado Business & Environment), dedicado à investigação e ensino dos desafios ambientais para as empresas. Foi daí que nasceu, em 2008, o Modelo UNFCCC (de Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas) um programa sobre política climática em todas as escolas que pertencem à aliança. Ao abrigo deste projeto, estudantes de 30 países juntaram-se, em maio de 2021, para simularem negociações climáticas, de forma a manterem o aumento da temperatura média global abaixo dos 2º C, que é o limite máximo admitido no Acordo de Paris.
O limite que serve atualmente de base de trabalho é 1,5º C (considerada a meta ideal do Acordo). As últimas estimativas, no entanto, são de que o planeta se encaminha para uma subida de temperatura de 2,4º C, se todas as medidas e iniciativas globais para esta década forem cumpridas.