Está aí o último must-have da moda: uma alternativa completamente vegan ao cabedal, sustentável, produzida a partir de fontes vegetais. O micélio é uma massa composta pela ramificação de células provenientes de cogumelos e outros fungos. Pode ser cultivado em semanas e tem um aspeto e sensação idênticas à do couro de vaca ou ovelha.
Pela sua durabilidade – que até ultrapassa a do couro natural – facilidade e rapidez de produção e características semelhantes ao couro, cientistas acreditam que possa ser uma alternativa sustentável ao material, sem a necessidade de abater animais.
E a tendência já chegou ao mercado da alta costura. A marca de luxo Hermès juntou-se recentemente à startup MycoWorks para reinventar a sua icónica mala Victoria – produzida agora usando micélio.
A mala é produzida com recurso a uma tecnologia chamada Fine Mycelium, que produz um material celular bastante forte que pode ser processado para dar um efeito luxuoso, que replica o do couro.
“É mais do que um novo material – é uma inovação de fabrico que dá aos designers novos níveis de personalização e controlo criativo”, explica a cofundadora da MycoWorks, Sophia Wang. “Os nossos materiais são essencialmente feitos por encomenda e há uma total transparência no que está a ser feito e como. Controlamos o tamanho, resistência, flexibilidade, e espessura de cada folha. Esta personalização cria uma gama de possibilidades de desenho, minimiza o desperdício e assegura uma qualidade consistente”, continua.
O material pode ser cultivado em tamanhos e formas específicas de acordo com a necessidade de produção, eliminando qualquer desperdício durante o corte, que ocorreria com o couro tradicional. E pode ser produzido em apenas algumas semanas.
De acordo com Merlin Sheldrake, biólogo e autor do livro Entangled Lives: How Fungi Make Our Worlds, Change Our Minds, and Shape Our Futures, o desenvolvimento deste novo material e o seu uso na indústria da moda pode contribuir para uma nova forma de ver os fungos: “Como uma analogia para pensar de forma criativa, e sustentável.”
“Estou entusiasmado por apoiar o mundo da moda nos seus esforços para se tornar mais sustentável. Há tanto potencial nos fungos para superar alguns dos problemas que enfrentamos”, afirma.
A indústria da moda tem enfrentado recentemente inúmeras críticas – é das mais insustentáveis, não só pelo elevado nível de poluição que produz (a partir da produção excessiva de vestuário, fibras sintéticas, e de couro animal) como pelas condições desfavoráveis em que vivem e trabalham muitos trabalhadores da indústria em países em desenvolvimento.
Mas o desenvolvimento de alternativas como o micélio e outros biotêxteis (que já estão a ser produzidos a partir de catos, maçãs ou ananases) representam esforços por parte da indústria para se tornar mais sustentável. E a boa notícia é que estes materiais também podem ser usados noutras indústrias, como para produzir mobiliário ou componentes automóveis.
No entanto, para ter um verdadeiro impacto na sustentabilidade, o micélio não pode ser um produto exclusivo apenas a marcas de luxo. Matt Scullin, CEO da MycoWorks garante que a empresa já tem em mente contratos com marcas mais comerciais.
“Estamos a trabalhar primeiro com a moda de luxo porque eles estão à frente da curva quando se trata de sustentabilidade. Estas são marcas que estão em posição de pensar em grande e de pensar a longo prazo”, explica.
Sheldrake acredita sobretudo que a incorporação de fungos e outros materiais biodegradáveis na moda é sobretudo uma forma de “reformular a forma como pensamos sobre o desperdício”.
“Fomos treinados, como consumidores, para pensar em termos de uma linha reta em que compramos algo, o usamos e o deitamos fora. Os fungos podem alterar o pensamento sobre a moda a muitos níveis. Trata-se de inovação material, mas também da cultura de fazer coisas novas sem fim, e do que podemos aprender ao pensarmos em termos de natureza.”