Apesar do título acima invocar a imagem de um bulldozer a limpar impiedosamente uma floresta, entende-se por destruição de habitat a sua destruição propriamente dita, mas também a sua fragmentação e a sua degradação. Três pelo preço de um, portanto…
Mas o melhor é exemplificar. Imaginemos, então, uma floresta europeia há uns milhares de anos, habitat de inúmeras espécies. O que lhe poderá ter acontecido? Pode ter sido destruída e convertida, por exemplo, numa área agrícola ou de pastoreio. Também pode ter ocorrido a fragmentação dessa floresta, por exemplo, pela criação de zonas urbanas que promovem a descontinuidade desse habitat. No terceiro caso, pode não ter havido desflorestação, mas mesmo assim ter ocorrido uma degradação dessa floresta por estar sujeita a poluição ou à invasão de uma ou mais espécies exóticas. Por último, também é possível (apesar de improvável) que a floresta esteja bem conservada, mantendo o seu valor natural.
Talvez ache que esta visão é pessimista, mas a verdade é que se calcula que mais de 85% dos habitats naturais terrestres da Europa tenham sido destruídos por ação humana. Numa perspetiva mais global, a estimativa é que cerca de 80% da superfície terrestre mundial sem gelo tenha sido influenciada por estas nossas ações. A principal causa foi a expansão da agricultura e da pastorícia, que acompanhou o crescimento da população humana nos últimos 10 000 anos. Apesar do aumento das áreas urbanas nas últimas décadas serem a face mais visível da destruição de habitat terrestre, as atividades agrícolas ainda são hoje as principais responsáveis pela destruição do habitat.
Em relação a Portugal, a área de floresta representava uns míseros 4 a 7% do território do continente em 1870. Mas graças a fatores como o abandono da agricultura, o êxodo rural, a expansão de florestas pouco densas de sobreiro e azinheira (chamadas de “montados”) e a introdução de pinhais e eucaliptais, a floresta tem vindo a recuperar e passou a ocupar em 2010 cerca de 35% do uso do solo em Portugal Continental. E ainda bem, que estes habitats são bastante apreciados tanto por espécies selvagens como por duendes.
A destruição do habitat é, também, uma questão importante em ambientes costeiros e marinhos. As zonas costeiras ocupam menos de 15% da superfície terrestre global e concentram mais de 60% da população mundial, sendo por isso fácil de perceber que estão sob enorme pressão. Nas zonas marinhas, as ameaças à sua conservação incluem artes de pesca destrutivas, poluição, turismo, etc.
Por exemplo, na pesca de arrasto de fundo, há placas metálicas e rodas de borracha presas a redes do tamanho de um ou mais campos de futebol que são arrastadas no fundo do mar. Pelo caminho, são destruídos habitats frágeis, que podem levar décadas a recuperar desta ação de “limpeza” profunda. Outro exemplo é a acumulação de lixo de plástico em todos os mares do Mundo, seja ele garrafas, sacos ou as escovas de dentes do ano passado. Ainda não se conhece bem o efeito desta poluição, mas sabe-se que afeta espécies marinhas como aves, mamíferos e tartarugas. Resta saber se um destes dias não temos Neptuno, o deus do mar, a vir falar connosco de arpão em riste a propósito destes problemas.
Considerando que a população mundial já ultrapassou os 7 mil milhões de pessoas, e que este número deverá aumentar nas próximas décadas, é expectável que continue a haver destruição de habitat. De qualquer forma, e tendo em conta que as áreas naturais também nos são úteis sob vários pontos de vista, era bom zelarmos pela manutenção destes espaços em que a natureza possa existir. Até porque passear num parque natural é geralmente mais agradável do que passear num parque de estacionamento…
Referências bibliográficas:
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